O presidente interino Michel Temer aproveitou a entrevista coletiva de lançamento das medidas econômicas para mandar recados à população e aos adversários políticos, que vêm promovendo sucessivas manifestações de inconformismo com a mudança de governo. Depois de justificar sua ascensão ao cargo como uma "consequência da Constituição", o peemedebista dirigiu-se diretamente aos opositores: "Temos que cuidar do país, aqueles que quiserem esbravejar, façam como quiserem, mas façam pelas vias legais da Constituição".
É um bom parâmetro. A Lei Maior do país prevê liberdade de expressão e de manifestação para todos, desde que de forma pacífica, sem interferir nos direitos de outras pessoas. Alguns dos protestos que se multiplicaram depois do afastamento do governo anterior já ultrapassaram o limite constitucional, notadamente nos casos em que os manifestantes depredaram bens públicos e privados ou entraram em choque com forças policiais que davam proteção a instalações e autoridades.
Isso, evidentemente, não significa que o governo interino deva ficar livre de críticas ou protestos. Pelo contrário, é com uma oposição atenta e ativa que a democracia funciona melhor. E o momento é favorável para uma atuação inteligente e produtiva de quem discorda do governo, pois as instituições democráticas, que estão funcionando bem, podem ser usadas para garantir a discordância e a livre manifestação. Basta conferir, por exemplo, as fotos da última entrevista do ex-ministro Romero Jucá, emolduradas por cartazes com críticas aos atuais ocupantes do poder.
Esbravejar com inteligência rende visibilidade e resultado.