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O Partido dos Trabalhadores tem todo o direito de defender o ex-presidente Lula, que é o principal ícone da agremiação. Também tem o direito de enaltecer os avanços sociais de seus governos e até mesmo de apregoar conquistas que para muitos são questionáveis, como o pleno emprego. Cabe ao povo brasileiro avaliar os benefícios e prejuízos das administrações petistas. Mas há um ponto do programa partidário apresentado ontem que merece reflexão da sociedade: a tentativa de relegar as investigações da corrupção, inclusive dos episódios que envolvem o ex-presidente Lula, a uma suposta conspiração das elites contra os defensores dos pobres.
O surrado "nós contra eles" voltou a ser utilizado pelo próprio Lula, quando disse que as ações dos governos petistas incomodam "essa gente que não gosta de dividir a poltrona dos aviões com o nosso povo". É provável que até exista mesmo gente que se incomode com isso, embora a crise econômica já tenha deixado no passado aquele ambiente de aeroportos lotados de pessoas que nunca haviam viajado de avião. Não é esse, porém, o debate atual.
O que realmente incomoda a sociedade brasileira no momento é a recessão econômica potencializada por um escândalo de corrupção que parece não ter mais fim. Envolvido até o pescoço nos dois problemas - o econômico e o ético -, o PT poderia ter aproveitado a oportunidade de contato com o público no horário nobre para seguir a sua própria sugestão: mudar o enredo. A não ser que considere representantes da elite o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal.