
Em tom de desabafo, mas sem deixar claro que rumo seu partido tomará no debate sobre o impeachment, o presidente do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, registrou na carta encaminhada à presidente Dilma Rousseff não apenas a fragilidade da aliança política que sustenta o governo, mas também a inaptidão para o diálogo e a visão excludente da chefe da nação e do Partido dos Trabalhadores. Recheada de mágoas, muitas delas justificadas, a carta também revela o preocupante jogo de interesses e de apadrinhamentos políticos que sustenta a coalizão partidária atualmente no poder. Está cada vez mais claro o artificialismo da aliança que vem conduzindo o país e que se ampara não em projetos, mas na disputa por cargos na imensa e inepta máquina estatal.
Não parece haver dúvida em relação ao clima de desconfiança entre o governo e seus aliados. Pena que o presidente do PMDB, que vem sendo o principal parceiro do PT no comando do país, não tenha levantado publicamente esta questão antes. Agora, no momento em que a presidente está acuada pela crise econômica, pelo escândalo da Petrobras e pela ameaça de cassação do seu mandato, seu gesto se presta a interpretações variadas, que vão da conspiração política ao compreensível ressentimento.
Como diz o ditado latino utilizado por Temer, "verba volant scripta manent" (palavras ditas voam, palavras escritas permanecem), sua carta ficará registrada na história do país como um atestado da incapacidade de diálogo e da inoperância de um governo que afundou o país numa crise sem precedentes e, por enquanto, sem saída visível.