Gosto da matraca dos guias turísticos, com informações que se complementam ou se confundem. Conversei com três guias durante uma semana no Peru, cada um com seu estilo e suas percepções. Michel, o primeiro, de Lima, referiu-se a Francisco Pizarro, o espanhol que saqueou Cusco, no século 16, como "conquistador".
Mostrou a tumba do bandido, na Catedral da Praça das Armas, e explicou, com certa resignação, que os restos estão ali porque aquele havia sido um homem fiel à Igreja Católica. Abidon, o segundo guia, em Cusco, mostrou as ruínas do sítio de pedras gigantes de Saksawaman, que pode ter sido uma fortaleza inca. E também se referiu aos saqueadores como "conquistadores".
O terceiro, Roberto Carlos, prometeu cantar - mas não cantou - na praça central de Machu Picchu e foi o único a classificar Pizarro como "invasor". Não questionei nenhum sobre a definição pessoal para os espanhóis. O primeiro e o segundo exaltaram a agricultura, a engenharia e a arquitetura incas.
O último foi implacável com a visão mais romântica da cidade sagrada, depois de elogiar os conhecimentos astronômicos dos ancestrais. Disse que Machu Picchu pode ter sido uma cidade de mulheres levadas ao alto da montanha de 500 metros para o harém do imperador Pachacuti. Aquele teria sido um lugar de adoração ao sol e de orgias.
Todos glamourizaram os mistérios incas: como cortavam e arrastavam pedras de toneladas para encaixes perfeitos? Por que construíram Machu Picchu? Por que abandonaram a cidade?
Uma guerra civil e a destruição provocada pelos espanhóis acabaram com o império inca, que não dominava a escrita. Mas há mais interrogações do que informações categóricas sobre como foram exterminados por doenças, migrações e pela perseguição dos invasores.
Daqui a alguns séculos, guias esforçados, à disposição de visitantes curiosos poderão oferecer em Brasília as mais variadas versões para outro extermínio, o do Império Lulista, se o massacre que se desenrola chegar ao desfecho sonhado pelos povos que o combatem.
O império, que começou como petista e depois foi adjetivado pelo nome do seu líder, pode ter sido, como contarão alguns guias, derrotado pela própria ambição. Pela extensão desmesurada de domínios, pelos acordos com povos oportunistas, pela soberba, pela corrupção e, claro, por seus acertos.
O Império Lulista, contarão os guias, sofreu o cerco implacável da polícia, do Ministério Público e da Justiça, como nunca antes - muito menos no Império Tucano que o antecedeu. Porque, dirão alguns guias, não havia corrupção antes do Império Lulista, como não havia corrupção no Império Militar da segunda metade do século 20.
Antes do lulismo, vastos planaltos eram dominados por povos imaculados. O lulismo, e apenas o lulismo, dedicou-se a sacrifícios humanos e a práticas ilícitas que comprometeram séculos e séculos de civilizações retas e honestas. E foi então que o império se desintegrou.
Já a civilização à direita, pura e incorruptível, teve apenas uma baixa. José Maria Marin, um de seus guias espirituais, homem dos tempos do Império Militar, aventurou-se em terras distantes e foi preso pelo FBI por corrupção, certamente por engano.
Os povos da direita, que viviam entre a Serra da Mantiqueira e os sítios arqueológicos do Volume Morto da Cantareira, dirão os guias, detinham a exclusividade do acervo moral das serras e dos planaltos. Por isso, a direita, protegida pelo sol e por todos os deuses, vendeu pedras, pratas, ouro e até as almas das catedrais, sem nunca dar explicações e sem nunca ter sido incomodada.
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Moisés Mendes
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