Este texto tem óbvios motivos e todas as insuficiências que o distanciam de qualquer efetividade. Por isso, a dúvida em escrevê-lo. Dizer sobre o fanatismo não sei se cabe depois desta desgraça em cascata. Quase constrangedor. Ponho minha dúvida às claras. Caberia este espaço em branco. Vazio, desolado, pelo ocorrido no espasmo delirantemente sangrento mas concatenado com engenharia macabra. Um vazio pela constatação da pobreza mental, e há de se dizer, humana, que se transveste por uma missão de purificação e retomada da civilização.
A moldura da guerra, a formalização da destruição, a defesa dos territórios, da dignidade humana, são temas complexos e acompanham a História. Um pensador da espécie bípede, Sigmund Freud, abalou-se com a I Guerra Mundial e lhe ajudou em construir suas teorias mais próximas ainda do que é o aparelho mental humano e esboçar coisas com Pulsão de Morte, compulsão a repetição e o sempre atualíssimo Mal-Estar na Cultura. Nos tempos de hoje, quando a gaiola terrestre parece ter ocupantes em demasia e que maltratam o ambiente, é uma anomia e exclusão, que direciona a avulsividade, e cria-se o incontrolável homem que perdeu a subjetividade e doou-se à causa, a uma identidade grupal, no extremo de uma ideia, na obstinação soberba do estreitamento do pensamento, e, na justificativa mouca, pratica seus atos: extermínio, na delirante da gratificação eterna e na desconsideração de qualquer entranha humana, cego viés, torpe e narcísico, mal denominado de religiosidade. O fanático deixou de ser alguém para ser um pedaço de uma ideia. A missão seduz e propicia um gozo que supre qualquer reflexão. A ratoeira do Bataclan representa o potencial sítio desconhecido de qualquer outra possível ratoeira. Melancólico. Aí está a impotência de todos nós, nós que andamos saudavelmente bem mais próximos do conflito, das ambivalências, das dúvidas, do frágil e do forte, do amor e do ódio. Sobra a solidariedade que cresce entre todos.