No último fim de semana, mais um acidente de trânsito chamou atenção. As pessoas atingidas, uma delas gravemente ferida, sequer estavam no carro, apenas caminhavam na calçada em direção ao trabalho. Podemos até dizer que o motorista nada tinha a ver com elas, mas é nesse ponto em que acho que erramos: todos estamos relacionados.
Fui voluntária do Vida Urgente, da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, por alguns anos. Mesmo antes de ter idade para ter carteira de habilitação, já fazia campanha contra a combinação de bebida e direção. E sempre disse que minha motivação era uma só: não queria que acontecesse com os outros o que não desejo para mim.
Nunca perdi ninguém para o trânsito e continuo não querendo saber como é. Portanto, hoje, quando dirijo, não deixo de beber somente por causa das consequências de infringir a lei, mas para evitar colocar em risco a mim, a quem estiver na carona e a quem estiver nos outros carros - ou até mesmo fora deles.
Empatia é algo que pode resumir esse tipo de decisão. Por conceito, é o "estado de espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que ela está sentindo". Por mais que seja impossível, de fato, sentir a dor do outro, nem sempre é preciso sofrer de verdade para entendê-la.
Há, portanto, um caráter preventivo em ser empático. Ninguém precisa estar envolvido em um acidente para saber que não quer que aconteça. Ninguém precisa passar pelo drama do amigo para entender sua intensidade. Aprender apenas com os próprios erros ou somente depois da própria dor é pouco produtivo.
Obviamente, demanda força de vontade e esforço. É como tirar do outro o peso de culpa que geralmente colocamos e transformá-lo em exemplo. É como deixar de apenas dizer "eles fizeram errado", "eles escolheram", "eles que decidam" para passar a pensar no que os leva a isso e, se for o caso, como evitar que se repita. É, principalmente, saber que nós somos os "eles" de alguém, passíveis de falhas e julgamentos, bem como nossas atitudes geram consequências além do nosso conhecimento.
Empatia também é, enfim, o senso coletivo que muito nos falta. A partir do momento em que nossas ações estiverem voltadas para o bem de todos, todos sentirão a diferença, inclusive nós mesmos. Quem sabe, assim, possamos circular mais tranquilos e seguros. Às vezes, ao volante; às vezes, na calçada.