O Gre-Nal político chegou às empreiteiras. A direção da OAS, que ergueu a Arena do Grêmio, torcia por Dilma Rousseff na eleição do ano passado. A turma da Andrade Gutierrez, que reformou o Beira-Rio, delirava por Aécio Neves.
Desde julho, quando vazaram mensagens trocadas entre executivos, sabia-se que a OAS era dilmista. O presidente, Léo Pinheiro, e seu time apostavam na vitória do PT. No dia da eleição, quando a apuração pendeu para o lado de Aécio, bateu o pavor no grupo.
Um deles escreveu: "Informação de dentro do TSE: Aécio 5% na frente. FHC está falando em vitória de Aécio. Pode ser boato, mas...". Pinheiro não se entregava e dizia que Dilma iria reagir. Ao final, comemorou: "Dilminha ganhou".
Não há ataques a Aécio entre os amigos dos corruptores da OAS como há ataques a Dilma na troca de mensagens dos parceiros da quadrilha da Andrade Gutierrez. Os cabeças da empreiteira odeiam Dilma. As mensagens da Andrade foram divulgadas na última semana pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O Estadão reproduz as conversas de pelo menos meia dúzia de graúdos, alguns sob investigação e dois deles presos. Outros, talvez por incompetência, nem investigados são. Dilma é "a gorda de pernas abertas". Outro diz: "Fora sapa com cara de satanás". A máfia se divertia.
O dado desalentador, para quem ainda defende bandidos e só vê corruptos entre os inimigos, é o péssimo português desse pessoal. Não são erros eventuais, presentes em qualquer texto. São barbaridades.
Um dos diretores, João Martins Silva Neto, é um caso sério. É dele o maior mico das mensagens. O homem escreveu, quando a petista foi anunciada como vitoriosa: "A miséria e a ignorância elegeu a Dilma". E isso que Martins detinha o cargo de presidente mundial da AG Negócios Estruturados.
Pobre Brasil, pobre português, pobres executivos tão bem estruturados para altos negócios e propinagens, mas incapazes de conjugar um verbo numa frase curta em que se incomodam com os ignorantes. Que miséria produz homens como Martins? Ele é um dos que anunciam aos colegas a vitória de Aécio, até perceber o erro e desabar na depressão da derrota. Foi quando o verbo o derrubou.
Não é a primeira vez que o Estadão nos oferece a diversão de protagonistas da Lava-Jato, que se comunicavam como adolescentes sem limites. Em novembro do ano passado, o jornal divulgou conversas de cinco delegados federais dedicados à operação. Eles atacavam Lula e Dilma durante a eleição e faziam campanha para Aécio.
Já escrevi sobre isso e não vou repetir aqui as bobagens que escreviam, porque até o humor dos delegados tucanos é ruim. O que há em comum entre os torcedores do PSDB na PF e os executivos das empreiteiras é o baixo nível das frases.
Você pode admitir que quadrilheiros desprezem bons modos quando se comunicam entre si. Mas não deve aceitar sem estranhamento que também os agentes da lei sejam tão bagaceiros. O Brasil do esforço moralizador merecia algum glamour de mafiosos e de policiais.
Há pelo menos, no conjunto, coerência também com o padrão dos golpistas. Tudo no país vem perdendo qualidade, ou a oposição não seria liderada por Eduardo Cunha, Bolsonaro, Caiado, Zé Agripino (investigado em dois casos de corrupção), Fábio Júnior e Lobão.
Não está fácil pra ninguém. Não há golpe que prospere com o ajuntamento de tanta mediocridade.