Os maestros, parte 2. Por que se fala tanto na dança dos maestros nas orquestras internacionais, regentes trocando de lugar, pulando de cá pra lá e de lá pra cá com anos de antecipação, quando isso tem importância mínima na alta do dólar, na crise dos refugiados, na reforma dos ministérios? É que orquestras e maestros são um pouco como times de futebol e seus treinadores, assuntos infindáveis. Pouco interessa se custa menos financiar cem músicos e um maestro do que um plantel de jogadores, pois talvez a relação palco versus campo não seja um despropósito.
Agora foi Riccardo Chailly, o irremovível maestro da Gewandhaus de Leipzig, que há algumas semanas pediu as contas com a bênção do prefeito da cidade. Isso até tem algum reflexo na música brasileira, pois recém iniciava um projeto de gravação dos concertos para piano e orquestra de Beethoven com Nelson Freire, renovando uma parceria de muitos prêmios quando os dois registraram os concertos para piano de Brahms. Aliás, o disco de ouro dado aos músicos pela revista Gramophone está lá exposto no saguão da sala de concertos de Leipzig.
Talvez só a gravadora saiba o que acontecerá agora com esse ciclo Beethoven ítalo-germânico-brasileiro. O reflexo é de longo prazo, é certo, bem diferente do reflexo de curtíssimo prazo de uma derrota imprevista em campeonato ou de um esquema tático mal apanhado em tempos de Brasileirão. Nos tempos que correm, quase não houve rodada em que não tenha acontecido alguma dança de técnicos - alguns conseguiram a proeza de dançarem duas vezes no correr deste campeonato.
Isto nunca se ouviu na dança dos maestros e nem no percurso inconstante das orquestras: às vezes, os maestros até se eternizam, mesmo com o desgosto manifesto dos músicos. Foi assim com Seiji Ozawa em Boston, décadas de relação conflituosa. Kurt Masur, herói da unificação alemã, também deixou desgostos em Nova York, por conta da antipatia mútua.
Isso é que nunca se ouviu na dança dos técnicos.
Futebol é jogo rápido. Falha num dia, rua no dia seguinte. A música é bem mais lenta e, às vezes, as mudanças começam num século para terminar em outro.