Por Marta Gleich, diretora-executiva de Jornalismo e Esporte e secretária do Conselho Editorial da RBS
Desde o início de agosto, o Grupo RBS publica conteúdo em GZH criado por um software desenvolvido para escrever matérias. Como assim? Já explico.
Existem tarefas repetitivas numa redação, que poderiam ser comparadas a apertar parafusos numa fábrica de carros. Exemplos: pegar a previsão do tempo para Porto Alegre junto a nosso fornecedor dessas informações, que no caso é a agência Climatempo, uma das mais renomadas do país nesse tipo de dado, e escrever uma nota a respeito disso. Você já pode imaginar o modelo: Porto Alegre terá amanhã entre 15 e 19 graus, céu ensolarado, vento Norte fraco e tal. Todo dia a mesma coisa, mudam os dados. Até agora, um ser humano fazia isso. A partir de agora, um robô pegará os dados da Climatempo, colocará num modelo previsto por um jornalista e disponibilizará para uma pessoa da Redação revisar e publicar.
Por que isso é importante? Porque tarefas repetitivas, assim como numa indústria de carros, podem ser feitas com inteligência artificial, para que seres humanos utilizem seus cérebros para tarefas mais complexas ou relevantes, como produzir uma reportagem sobre o aquecimento global ou soluções para os problemas da educação no Rio Grande do Sul. Sem deixar de prestar serviço com as matérias diárias de previsão do tempo – que, por sinal, agora vai abranger 65 cidades brasileiras. Ao automatizar algumas funções de repetição, como a previsão do tempo ou o horóscopo do dia (conteúdo muito valorizado e de alta leitura), .
Estaremos liberando jornalistas para apurarem e escreverem ainda mais sobre temas de alto impacto e contribuição para nossos leitores
Alguns cuidados, nesse contexto, devem ser tomados por redações que adotam os bots, ou robôs. O primeiro: o conteúdo sempre deve passar pelo crivo de um editor para revisão. O segundo: somente matérias sobre certos assuntos podem ser produzidas automaticamente, como previsão do tempo, horóscopo, resultado de loterias, informações de serviço como datas de pagamentos do INSS... ou seja, notas sobre dados repetitivos gerados por fontes altamente confiáveis. Este movimento é um primeiro passo para compreendermos as limitações e as possibilidades da inteligência artificial e, com responsabilidade, incorporarmos essa ferramenta para fazer melhor jornalismo.
Alguém poderá dizer que estamos fazendo isso para tirar a função de jornalistas, mas não se trata disso, estamos valorizando o jornalismo profissional ao permitir que repórteres e editores dediquem mais tempo para produzir conteúdo ainda mais qualificado, ouvindo mais fontes, escrevendo reportagens ainda mais completas e investindo seu tempo não em tarefas repetitivas, mas em atividades que exigem criatividade e raciocínio.