Imagine ter na mesma sala universitários dos mais variados cursos com o mesmo objetivo: inovar, empreender e gerar um impacto social. Pois esse espaço existe em Porto Alegre. O recém-inaugurado Idear, na PUC-RS, tem o propósito de criar e buscar a execução dessa criação. Tornar uma ideia um projeto executável, fazendo diferença na vida das pessoas, não ficando restrito aos muros da instituição.
Alessandra Soster é estudante de Arquitetura. Henrique Finatto, de Geografia. Os dois cursaram dentro do Idear no 1º semestre de 2016 a disciplina “Projeto Desafios – Inovação e Impacto Social”, que é eletiva dos cursos de graduação da PUC. A dupla fazia parte de um grupo que tinha como tema qualidade de vida.
“A gente primeiro descobriu que a qualidade de vida é um conceito subjetivo. Cada um poderia dar uma definição para si. E ali a gente foi incitado a pensar numa solução para um problema específico, para um público delimitado”.
Depois de muita discussão, os alunos focaram na agricultura Familiar. Queriam tratar de produtos orgânicos e se inspiraram na feirinha agroecológica que tem dentro da PUC. Os estudantes começaram fazendo uma sondagem entre consumidores. Chegaram à conclusão que muita gente não sabe direito onde procurar os orgânicos, que a maioria gostaria de consumir e que acha que os produtos são muito caros. Também foram ouvir os produtores.
“Depois de identificar que a dificuldade dos produtores era atingir os consumidores finais, a gente foi atrás do público, através da internet, descobrir por que essas pessoas não vão às feiras. E se as feiras são suficientes para dar conta dessa demanda e se as pessoas têm interesse de consumir esse produto”.
O grupo de Alessandra e Henrique já conseguiu identificar e mapear mais de dez feiras em Porto Alegre, mas o trabalho segue. Os locais podem ser conferidos na página da Feira-Móvel no Facebook. Posteriormente, pretendem disponibilizar essas informações num site e aplicativo. Além das feiras, também querem identificar os estabelecimentos comerciais onde se pode comprar um produto sem agrotóxico.
“O que a gente quer fazer é trazer os produtos a nível de bairro. Em comércios locais, cafeterias, padarias... pequenos comércios para que as pessoas possam encontrar esses produtos que vêm direto das associações. A nossa frase, inclusive, é: ‘direto do produtor’”.
Página da Feira Móvel no Facebook. Foto: Reprodução.
O objetivo é que o aplicativo seja usado para vender os produtos orgânicos. Além disso, pretendem criar uma feira móvel, no sentido literal da palavra, onde verduras e frutas são colocadas em gondolas dentro de algum veículo, como por exemplo, os conhecidos Food Trucks, como destaca Alessandra.
“Por último, a gente quer disponibilizar a Feira Móvel, que vai ser uma feira itinerante. Que vai pegar esses produtos junto aos produtores e disponibilizar eles em vários pontos da cidade”.
Naira Libermann é coordenadora do espaço Idear. Professora da Faculdade de Administração, ela lembra que a ideia do projeto começou em 2014 para aproximar as escolas, num trabalho de inovação e empreendedorismo. Queriam um lugar que concentrasse a discussão para “fazer a diferença no mundo”. Trabalhar com algo que fosse uma causa. “Empreendedorismo é diferente de CNPJ”, diz a professora.
“O Idear é um espaço, laboratório aberto. É um conceito de laboratório integrado com a comunidade acadêmica, sociedade e alunos para desenvolver projetos que possam trabalhar com soluções de empreendedorismo, de necessidades, de problemas sociais, problemas contemporâneos de empresas, de pessoas, de necessidades que venham de mercado”.
Jogos são usados para estimular a criatividade dos alunos. Foto: Eduardo Matos/Rádio Gaúcha
Ana Cecília Nunes é professora da Faculdade de Comunicação Social da PUC. Destaca a importância dessa mistura de cursos para chegar a apenas um objetivo: qualificar e executar as ideias.
“A inovação vem do pensar diferente. De a gente encontrar o diferente. De a gente encontrar a tensão que existe no nosso pensamento e o pensamento do outro”.
A professora Ana dá um exemplo prático. “Teve um aluno da Geografia que trouxe o exemplo de mapas. Ele disse: ‘inovação na minha área de conhecimento são esses novos mapas colaborativos que as pessoas colocam os crimes que estão acontecendo naquela região’. Quando a gente viu, tinha uma aluna da comunicação que disse: ‘eu estudo isso. A gente fala muito disso na comunicação. Então mapear crime tem tudo a ver com jornalismo’”.
Henrique gostou da experiência. “Porque quando a gente sair da universidade, a gente vai se deparar com diversos profissionais que têm diversas características diferentes, que têm visões de mundo diferentes. Nos possibilita ter sensibilidade de escutar o outro”.
Alessandra lembra um antigo, mas sempre atual ditado popular: “duas cabeças pensam melhor que uma”. No caso do Idear, a ajuda é ainda maior.
“É o resultado disso. Não só dessa metodologia, dessa interdisciplinaridade. Eu acho que é o reflexo de um mercado que está mudando, da sala de aula que está mudando. Cada vez mais não é só eu sendo arquiteta no meu escritório. É eu com diversas áreas pensando um projeto e principalmente criando a possibilidade de criar um impacto social. Isso é o mais enriquecedor”.
A professora Naira lembra que mais do que discussões e a boas ideias, o fundamental é que os projetos ultrapassem os muros da universidade.
“Por isso que é muito importante projetos que tenham conexão com a sociedade, conexão para fora. Qualquer laboratório precisa estar conectado para fora. Ele não é intramuros”.