
Com a Capela Sistina prestes a ser fechada para a realização do Conclave, um dos assuntos mais comentados antes e durante o processo de votação é a lista de favoritos para o a sucessão do papa Francisco. Algumas das principais relações de cotados, feitas por especialistas em Vaticano, mostram domínio de europeus e sul-americanos com menos destaque.
Especialistas ouvidos pela reportagem de Zero Hora afirmam que as chances de o novo papa ser brasileiro são remotas. Questões geográficas e envolvendo o perfil do novo papa podem ser decisivas (entenda abaixo).
O Colégio de Cardeais conta com oito brasileiros — sete deles estão aptos a votar no conclave, processo de escolha do novo pontífice.
- Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre
- Dom Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília
- Dom Sergio da Rocha, arcebispo de Salvador
- Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro
- Dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus
- Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo
- Dom João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília
Cardeais com 80 anos ou mais não podem votar para escolher o novo papa, segundo regras estabelecidas pela Santa Sé. Isso exclui da votação um dos brasileiros, o cardeal mineiro dom Raymundo Damasceno Assis, 88 anos. Contudo, as regras não impedem a eleição de cardeais acima do limite de idade.
Questão geográfica
O padre Carlos Gustavo Haas, professor do curso de Teologia da PUCRS, afirma que o principal fator que diminui a chance de um papa brasileiro é a questão geográfica. Dificilmente os cardeais vão repetir a decisão de 12 anos atrás — com o argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco —, escolhendo um nome da mesma região de maneira consecutiva.
— Realmente, pesa a questão de que eles não escolheriam novamente um sul-americano. Isso é um elemento muito forte, que pesa.

Mudança de perfil
O reitor da Unisinos, padre Sérgio Mariucci, afirma que algumas variantes afastam a possibilidade de um papa brasileiro ou de outro país da América Latina. Além da questão geográfica, tem uma tendência de mudança de perfil.
Citando outras sucessões como exemplo, o reitor destaca que os cardeais podem optar por um nome com estilo mais voltado para transição após um papado mais carismático e de comunicação de massa, como foi o de Francisco.
Nesse sentido, um nome de outro continente, como a Europa, pode sair na frente, segundo o reitor. Entre os cotados, estão o filipino Luis Antonio Tagle e Peter Turkson, de Gana.
Com isso, a chance de um papa italiano pode ganhar força. Pietro Parolin e Pierbattista Pizzabella aparecem com força.
— O papa Francisco abriu frentes, propôs o debate e conquistou multidões, mas também atraiu reações muito radicais e até agressivas contra ele. Por isso, talvez um papa italiano com habilidade de diálogo, que consiga restaurar a unidade ou que consiga sanar algumas dificuldades de diálogo, entre em questão. Talvez tenha um outro cardeal que se identifica com essa capacidade de profunda comunhão com o magistério do papa Francisco, mas também com muita habilidade de diálogo, de restaurar e de preservar a unidade da Igreja — explica Mariucci.
No entanto, esse caminho pode trazer um risco adicional, de mudar o perfil de igreja da América Latina — considerada "mais sensível, aberta, alegre e na rua", na avaliação do reitor — para um modelo mais fechado, com ritos mais solenes, ou com um diálogo mais restrito, segundo o padre Sérgio Mariucci.

Capacidade e diversificação
Sobre o perfil dos cardeais brasileiros, o padre Carlos Gustavo Haas afirma que todos os cardeais brasileiros são capacitados, com ótimas formações, e trajetórias que os colocam como ótimos nomes para líder da Igreja Católica.
Haas também destaca que a busca por diversificação pode pesar nessa questão.
— Nós temos também pessoas que despontam na África, na Ásia e na própria Europa, que tem bons líderes hoje. Então, acho que essa diversidade faz bem para a Igreja. Um europeu, um latino-americano, um asiático, pode ser, isso tudo pode acontecer.