
Uma Igreja aberta para o mundo.
Assim, o jornalista Filipe Domingues, analista especialista em assuntos do Vaticano, define o principal legado do papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos. Para ele, Francisco deixa como marca a preocupação com temas sociais e o esforço de colocar a Igreja no meio da sociedade e aberta ao diálogo.
— O principal legado do Papa é essa Igreja aberta que ele deixa, que se abre para o mundo, para o diálogo. Ele gostava muito de falar para os jovens e para todos. Ele falava que a Igreja é um lugar para todos, ele insistia no "todos" — comentou para Zero Hora.
Francisco foi o 266º papa da história. O Pontífice esteve internado devido a uma dupla pneumonia por 37 dias no hospital Gemelli, em Roma. Ele recebeu alta em 23 de março e se recuperava no Vaticano.
No domingo de Páscoa (20), fez sua última aparição pública. Francisco apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para dar a tradicional bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo). Após o discurso, o Papa ainda fez um passeio surpresa pela Praça de São Pedro em seu papamóvel para cumprimentar os fiéis. Ele circulou pela praça por alguns minutos e abençoou alguns bebês, escoltado por vários guarda-costas.
Ao falar de uma Igreja "acolhedora", promovida por Francisco, Domingues destaca ações do Papa em busca não só dos pobres, mas de outras pessoas à margem da sociedade: idosos, pessoas que vivem isoladas, desempregados, imigrantes e comunidade LGBT, entre outros.
— Foi um Papa que quis chegar nas periferias. Ele falava das periferias geográficas, mas também as periferias existenciais, das pessoas que estão à margem da sociedade. Todas essas pessoas ele quis trazer para o centro da Igreja e da discussão. Assim como falou que não existem duas crises, uma climática e uma social, mas sim uma única crise. Também procurou promover a paz, tentou entrar mesmo nas negociações de paz para interferir na medida do possível — explicou o jornalista.
O futuro da Igreja
Quanto ao que ocorrerá agora, a partir do legado de Francisco, Domingues avalia:
— Agora, temos que ver como isso será consolidado. Com certeza, não haverá ruptura, haverá continuidade com outro papa, mas talvez de outro estilo, com perfil diferente.
O jornalista tem mestrado e doutorado em Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e é diretor do Lay Centre em Roma. Também estudou ética da comunicação e como os jovens usam as redes sociais. Em função dessa experiência, foi consultor do Sínodo dos Bispos sobre os jovens, em 2018.