A hipótese de um ataque cibernético foi descartada 24 horas depois de um apagão que deixou Espanha e Portugal na escuridão na segunda-feira. A energia foi restabelecida totalmente nesta terça (29), enquanto as cidades voltam à normalidade.
"Neste momento, o sistema elétrico opera normalmente (...) de forma estável e correta", disse Eduardo Prieto, diretor da Rede Elétrica Espanhola, em entrevista coletiva.
A operadora do vizinho Portugal, a REN, informou que a rede elétrica estava "perfeitamente estabilizada" e que seus 6,4 milhões de clientes tinham serviço.
O enorme apagão começou logo após 12h30 (7h30 de Brasília) de segunda-feira e pode ter tido repercussões até na Groenlândia, que durante a noite sofreu uma queda em suas telecomunicações, parcialmente controladas pela Espanha.
As autoridades ainda não determinaram a causa do colapso da rede e, embora o governo espanhol não tenha descartado nenhuma hipótese, a de um ataque cibernético foi desconsiderada.
"Com base na análise que conseguimos conduzir até o momento, podemos descartar um incidente de segurança cibernética nas instalações da rede", disse Prieto.
Uma declaração apoiada pelo Governo português, que também descartou um ataque cibernético.
A União Europeia disse estar pronta para aprender as "lições" do grande apagão, um episódio de "magnitude sem precedentes", segundo uma porta-voz da Comissão Europeia.
- "Desconexão do sistema" -
A operadora portuguesa negou ter emitido um comunicado compartilhado com as redes a ela atribuídas que apontasse um "fenômeno atmosférico raro" como causa da interrupção.
Na segunda-feira, "nenhum fenômeno meteorológico ou atmosférico incomum foi detectado na Espanha", concordou a agência meteorológica espanhola.
Como explicação preliminar, Prieto disse na segunda-feira à noite que houve "uma forte oscilação nos fluxos de energia", acompanhada por "uma perda muito significativa de geração".
"Esta perda de geração ultrapassou a perturbação de referência" usada para projetar e operar os sistemas elétricos na União Europeia, o que causou "a desconexão do sistema elétrico" da Península Ibérica "do resto do sistema europeu" e seu colapso.
O apagão foi precedido por uma perda repentina de 60% da energia da rede "em apenas cinco segundos", disse o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez.
Nas cidades espanholas, o retorno da energia foi acompanhado de gritos de alegria após um longo dia sem luz e, em muitos casos, sem internet ou celulares.
O retorno da eletricidade permitiu a retomada do tráfego ferroviário em várias rotas principais, incluindo as movimentadas rotas Madri-Barcelona e Madri-Sevilha, de acordo com a empresa ferroviária nacional Renfe.
Três trens ainda estavam bloqueados na manhã desta terça-feira na Espanha, de acordo com o ministro dos Transportes, Óscar Puente.
Na estação de Atocha, em Madri, a situação continuava complicada nesta terça-feira. A cada anúncio de partida, os viajantes aplaudiam, segundo um jornalista da AFP. Algumas linhas de metrô de Madri permaneceram fechadas, mas bares e lojas da capital reabriram nesta manhã.
- Jornada caótica -
A maioria das escolas também recebia alunos, embora em alguns casos sem aulas, apenas para cuidar das crianças.
Ter um rádio portátil, pilhas e velas foi muito útil para muitos, como Valentín Santiago, de 48 anos, que diz que "nunca se desfará do botijão de gás".
Marcos García, um advogado de 32 anos que esperava o ônibus nesta terça-feira, destaca o quão evidente se tornou a "dependência absoluta dos sistemas tecnológicos".
Um retorno total à normalidade era aguardado ansiosamente na Espanha e em Portugal após um dia caótico sem metrô, com ônibus lotados, trens parados e comunicações impossíveis.
Tanto em Madri quanto em Barcelona, milhares de pessoas tiveram que atravessar a cidade a pé para chegar em casa.
Somente na região de Madri, foram realizadas 286 operações para ajudar pessoas presas dentro de elevadores, segundo as autoridades regionais.
O apagão de segunda-feira lembrou eventos semelhantes na Europa, como quando uma queda de energia na Alemanha em 4 de novembro de 2006 deixou 10 milhões de pessoas na escuridão por quase uma hora.
Três anos antes, em 28 de setembro de 2003, toda a Itália, exceto a Sardenha, ficou sem eletricidade.
* AFP