Com ou sem a motosserra presenteada simbolicamente pelo presidente argentino Javier Milei, Elon Musk transformou os Estados Unidos a seu gosto nos primeiros 100 dias no cargo, mas está começando a se afastar.
Oficialmente apenas um "funcionário especial", na realidade ele lidera o Departamento de Eficiência Governamental, a agência DOGE, responsável por cortar gastos e funcionários.
"Provavelmente no próximo mês, minha atribuição de tempo para o DOGE diminuirá significativamente", anunciou Musk na terça-feira, após divulgar os resultados de sua empresa de carros elétricos Tesla para o primeiro trimestre do ano, nos quais os lucros caíram 71% em relação ao mesmo período de 2024.
Embora não possa ocupar a presidência americana um dia pois não nasceu nos Estados Unidos, o homem mais rico do mundo, nascido na África do Sul, obteve um prêmio de consolação: tornar-se uma das figuras mais poderosas do país ao lado do presidente republicano Donald Trump.
Ele mesmo chegou a falar com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca com seu filho de quatro anos nos ombros e não hesita em questionar membros do governo no meio do conselho do gabinete.
Sem temer a oposição do Congresso ou os recursos legais, Musk trouxe a energia de um executivo do setor privado para sua função desde que Trump retornou à Casa Branca em 20 de janeiro.
Uma de suas primeiras ações foi enviar um e-mail para 2,3 milhões de funcionários públicos oferecendo-lhes uma saída amigável. Aqueles que optaram por ficar devem agora enviar um relatório semanal detalhando cinco atividades que fizeram durante a semana.
- O poderoso DOGE -
Ele apagou agências inteiras do mapa, incluindo a USAID, a agência responsável pela ajuda ao desenvolvimento.
Da noite para o dia, programas humanitários foram suspensos, funcionários tiveram que ficar em casa e seus colegas expatriados ficaram sem recursos no outro lado do mundo.
Mas o homem que almeja colonizar Marte tem uma visão clara. Ele empunhou como um astro do rock a motosserra que lhe foi dada por Milei, outro especialista em cortar serviços públicos.
No DOGE, seus jovens cientistas da computação assumiram o controle de órgãos públicos. O departamento excluiu os funcionários do CFPB - agência federal para a proteção de clientes bancários -, bloqueou as transações financeiras e assumiu o controle das publicações da organização nas redes sociais.
O magnata também visou outras instituições: todas aquelas envolvidas em programas de diversidade, equidade e inclusão.
- Tesla, vítima colateral -
Três meses depois, Musk não conseguiu atingir suas metas, apesar de suas medidas brutais.
Ele prometeu cortar US$ 2 trilhões em gastos federais - de um total de US$ 7 trilhões (R$ 11,5 trilhões de um total de R$ 40 trilhões, na cotação atual), mas reduziu o número para US$ 1 trilhão e, em abril, para US$ 150 bilhões.
Além disso, seu apoio a Trump está prejudicando suas empresas, especialmente na Europa, onde seus carros elétricos estão vendendo menos.
A Tesla reconheceu na terça-feira que a "mudança nas sensibilidades políticas" poderia ter "um impacto pronunciado" nas vendas.
Ele deixará a política?
Legalmente, um "funcionário especial" não pode ser empregado por mais de 130 dias, o que significa que Musk deverá deixar seu cargo oficial no verão (inverno no Brasil).
"Em algum momento, ele retornará" aos seus negócios, disse o presidente americano no início de abril, antes de acrescentar que o bilionário da Tesla "está ansioso" por isso.
* AFP