Aposentados argentinos, afetados pelos ajustes do presidente Javier Milei, voltaram às ruas nesta quarta-feira (19), em Buenos Aires, juntamente com torcedores de futebol, sindicatos e ativistas. O retorno ocorre uma semana após o confronto entre manifestantes e a polícia que deixou pelo menos 124 presos e mais de 40 feridos.
O protesto coincidiu com o debate na Câmara dos Deputados sobre um decreto de Milei, que obteve o apoio do Congresso para negociar um novo empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que foi aprovado com 129 votos a favor, 108 contra e seis abstenções.
Desde a manhã, dezenas de veículos das forças de segurança, caminhões hidrantes e cercas metálicas posicionados nos arredores do Congresso buscavam impedir que os manifestantes se aproximassem do Legislativo. A Justiça argentina alertou que vigiaria a operação de segurança desta quarta-feira.
A operação policial, com efetivo superior a 2 mil pessoas, interrompeu o tráfego em torno do Parlamento e impediu a passagem de pedestres na área. Nas estações ferroviárias, telas reproduziram advertências das autoridades: "Protesto não é violência, a polícia vai reprimir todo atentado contra a República".
O governo buscou impedir a repetição das cenas ocorridas durante o protesto de 12 de março, o mais violento desde o início do governo de Milei, que deixou 40 feridos.
Um dos afetados foi o fotojornalista Pablo Grillo, que ficou em estado grave após ser atingido pelo disparo de gás lacrimogêneo enquanto cobria os distúrbios. Vários deputados da oposição tentaram responsabilizar a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e pediram a renúncia dela.
Patrícia se negou a abrir uma investigação interna a respeito do caso e ofereceu uma recompensa de mais de US$ 9 mil por informação que "ajude a identificar os violentos" manifestantes da semana passada.
Novo acordo com o FMI
Mesmo com o protesto do lado de fora, os parlamentares aprovaram o novo empréstimo com o FMI. O valor é desconhecido e se somará aos US$ 44 bilhões de que Buenos Aires já deve ao Fundo.
O país precisa do novo recurso para fortalecer suas reservas, em um contexto de nervosismo nos mercados e intervenção crescente do Banco Central.
Desde que chegou ao poder, em dezembro de 2023, Milei adotou um ajuste fiscal com o objetivo declarado de combater a inflação e sanar as contas públicas.
Embora tenha conseguido baixar a inflação de 211% ao ano em 2023 para 118% em 2024, e equilibrar as contas públicas, a economia se contraiu 1,7% no ano passado e o consumo está em queda há 14 meses.
Protesto em 12 de março
Quase 60% dos aposentados recebem o salário mínimo, equivalente a US$ 265 (R$ 1,5 mil). No ano passado, o governo congelou um bônus de US$ 70 (R$ 400) a que tinham direito e reduziu a entrega gratuita de remédios, cujos preços dobraram em um ano.
No dia 12 de março, causou indignação nos manifestantes o caso de uma idosa de 81 anos que, usando bengala, foi atingida com gás de pimenta e empurrada por um policial até cair desmaiada.
Após os protestos, 114 detidos foram libertados por falta de provas, segundo uma juíza a quem o governo acusou de "prevaricação" e "acobertamento".
A convocação de torcidas de futebol ocorreu há algumas semanas, quando um aposentado vestindo a camisa do clube Chacarita foi atingido com gás pela polícia na marcha habitual em frente ao Congresso, em uma repressão contra a passeata dos aposentados, que vem aumentando.
A principal central operária do país, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), convocou greve geral de 24 horas em abril.