Está previsto para começar neste domingo (19) o cessar-fogo entre Israel e Hamas. A execução do plano, negociado para acontecer em três etapas, ocorre 470 dias após o ataque do grupo terrorista, que resultou na captura de cerca de 200 reféns e em uma guerra com reflexos em toda a região. Após o gabinete de segurança israelense aprovar os termos do acordo, o texto foi ratificado pelo Gabinete de Governo, composto por todos os ministros da gestão do premier Benjamin Netanyahu.
O acordo começa, justamente, com a liberação de reféns — estima-se que cem pessoas sigam sob cárcere dos terroristas. Trinta e três israelenses devem ser entregues. A prioridade é a soltura de mulheres, crianças, idosos e feridos. Entre os reféns, estariam cinco soldados. Segundo a rede britânica BBC, três pessoas seriam soltas imediatamente, com a liberação das demais acontecendo gradualmente ao longo dos 42 dias — seis semanas — da primeira etapa do cessar-fogo.
Israel acredita que a maioria dos reféns está viva. No entanto, o país não recebeu confirmação oficial do Hamas. Os corpos de cativos mortos também devem ser devolvidos. Em troca, as forças israelenses pretendem liberar 95 prisioneiros palestinos, sendo 25 homens e 70 mulheres. Na lista, divulgada pelo Ministério da Justiça de Israel, está a parlamentar palestina Khalida Jarrar, 62 anos.
Além da liberação de reféns e prisioneiros, a primeira fase do acordo de cessar-fogo também prevê a retirada de tropas israelenses do território palestino. Isso deve permitir que a população da Faixa de Gaza volte para o norte da região, após a migração forçada para o sul com a eclosão do conflito, bem como o ingresso de ajuda humanitária.
Primeira fase:
- Liberação gradual de 33 reféns capturados em Israel ao longo de um período de seis semanas, incluindo mulheres, crianças, idosos e civis feridos. Entre eles estariam cinco soldados israelenses;
- Em troca, serão liberados 50 prisioneiros palestinos, incluindo 30 terroristas condenados que estão cumprindo penas perpétuas;
- Ao final da primeira fase, todos os reféns civis – vivos ou mortos – terão sido liberados;
- Forças israelenses se retirariam dos centros populacionais de Gaza;
- Palestinos seriam autorizados a começar a retornar para suas casas no norte do enclave;
- Está previsto, ainda, um aumento na ajuda humanitária, com cerca de 600 caminhões entrando a cada dia no local.
Próximas fases
Enquanto a primeira fase do cessar-fogo for executada, Israel e Hamas vão negociar as próximas etapas. Nelas, pode acontecer a liberação de mais reféns, principalmente homens, soldados e civis israelenses, e prisioneiros palestinos. A retirada total de tropas de Israel e "um fim permanente da guerra", como disse o presidente americano Joe Biden, cujo mandato termina na segunda (20), estão no horizonte.
Contudo, não há garantias documentadas de que o cessar-fogo irá persistir até que os termos da segunda fase sejam elaborados. A incerteza é observada tanto internamente, com a desconfiança de integrantes do governo Netanyahu, quanto na comunidade internacional.
O professor de Relações Internacionais da ESPM São Paulo Roberto Uebel cita um histórico de centenas de acordos frustrados ao longo dos últimos 70 anos entre Israel e Palestina. Outro fator de dúvida é a situação política dos Estados Unidos, principal fiador das negociações. A entrada de Donald Trump na Casa Branca poderá ser decisiva para o andamento do acordo, diz o pesquisador:
— Precisamos aguardar os primeiros momentos do governo Trump sobre como será a sua condução. Temos que ser muito céticos, porque a efetivação desses acordos depende muito mais das questões políticas e geopolíticas do que aquilo que foi definido de fato nos encontros entre os representantes do grupo terrorista Hamas e do governo israelense.
470 dias
Este conflito começou após um ataque do Hamas ao território israelense, em 7 de outubro de 2023, por terra, água e ar. No dia seguinte, Israel declarou guerra. A situação causou apreensão no mundo, especialmente ao envolver nações vizinhas e grupos armados atuantes na região.
Pouco mais de um mês depois, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução sobre o conflito. O texto, proposto pelo governo de Malta, previa pausas nos ataques, abertura de corredores humanitários e liberação de reféns. O cessar-fogo temporário durou cerca de uma semana, com trocas de acusações sobre descumprimento dos termos de ambos os lados.
Em março de 2024, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, com 14 votos favoráveis e abstenção dos Estados Unidos, uma resolução pedindo cessar-fogo imediato no conflito entre Israel e Hamas, durante o período do Ramadã — mês sagrado para os muçulmanos, celebrado entre 10 de março e 9 de abril.
Nos meses seguintes, o conflito se expandiu com a participação do Irã e do grupo terrorista Hezbollah, que atua no Líbano.