Confrontos sangrentos entre guerrilhas na Colômbia completaram quatro dias, neste domingo (19), na fronteira com a Venezuela, deixando ao menos 80 mortos e milhares de deslocados em meio a operações militares para proteger os civis.
Aterrorizados pela violência armada, dezenas de colombianos e venezuelanos, carregando apenas mochilas, fugiam em botes neste domingo rumo à Venezuela, onde o governo ativou, no sábado, uma "operação especial" para atender os deslocados em dois municípios fronteiriços.
Outros milhares se refugiam no município de Tibú, à espera do término do conflito em seus povoados.
"Estima-se que mais de 80 pessoas tenham perdido a vida, mais de 20 estejam feridas e cerca de 5 mil tenham sido deslocadas", assinalou, em um comunicado, neste domingo, William Villamizar, governador do departamento de Norte de Santander, ao qual pertence a conflituosa região do Catatumbo.
Desde quinta-feira (16), rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidências das extintas Farc que se negaram a assinar o acordo de paz, em 2016, se enfrentam violentamente pelo controle do Catatumbo, uma região estratégica para a produção de cocaína. A população civil ficou em meio ao fogo cruzado e também é vítima de homicídios seletivos, segundo as autoridades.
No sábado (18), a Defensoria do Povo informou que sete ex-combatentes das Farc que assinaram o acordo de paz morreram devido à violência em cinco municípios da região historicamente dominada por grupos insurgentes.
Situação "alarmante"
A entidade, que zela pela defesa dos direitos humanos, também denunciou que os rebeldes do ELN estão indo "casa por casa" em busca de pessoas que consideram alinhadas às dissidências das Farc, para matá-las.
Villamizar tachou a situação humanitária em Catacumbo de "alarmante".
Em outra região do norte do país, o ELN teve confrontos com o Clã do Golfo, o maior cartel de drogas da Colômbia, com um balanço de nove mortos, segundo as autoridades. Em todo o país, já são quase 90.
Devido à investida do ELN, o presidente Gustavo Petro ordenou a suspensão das negociações de paz com a guerrilha, à qual acusou de cometer "crimes de guerra".
Mais de 5 mil membros da força pública foram mobilizados para a região "para reforçar a segurança do Norte de Santander", informou o Exército em um comunicado.
O Ministro da Defesa, Iván Velásquez, está na cidade fronteiriça de Cúcuta para liderar a ofensiva militar contra as guerrilhas.
Civis assassinados
— Temos falado com as comunidades e também lhes oferecemos proteção em nossas bases militares — expressou o comandante do Exército, general Luis Emilio Cardozo.
Ele acrescentou que a força pública estava mobilizada para garantir a chegada de alimentos às áreas em conflito e a saída de pessoas para locais seguros.
Os militares resguardam os albergues improvisados em vários municípios como Tibú, o povoado com mais cultivos de drogas do mundo, segundo a ONU.
Cardozo disse que a guerrilha planejou "em detalhe" atacar a população civil desprotegida:
— Os rebeldes chegaram a suas casas, os tiraram dali, os assassinaram.
Por causa do conflito, as aulas foram suspensas em todo o Catatumbo e vários centros de ensino foram transformados em refúgios. Foi declarado alerta laranja no setor da saúde.
O governador Villamizar pediu às guerrilhas que "cessem os confrontos, respeitem os direitos humanos e habilitem corredores humanitários que permitam às famílias se deslocarem sem pôr suas vidas em risco".