Centenas de deslocados iniciaram neste domingo (19) o retorno as suas casas, entre prédios destruídos no norte de Gaza, aproveitando a entrada em vigor de um cessar-fogo entre o Hamas e Israel no devastado território palestino.
Após mais de 15 meses de guerra, os deslocados enfrentaram paisagens desoladoras, montes de concreto pulverizado e edifícios em ruínas.
— Chegamos aqui às 6h e encontramos uma destruição em massa, algo nunca visto. Não resta nada no norte que valha a pena para viver — descreveu Walid Abu Jiab em Jabaliya.
Ao longo da estrada, antigos edifícios estavam destruídos após meses de bombardeios do exército israelense, que lançou uma operação militar nessa região em outubro de 2023 para, segundo suas declarações, evitar o reagrupamento de combatentes do Hamas.
Rana Mohsen, deslocada de Jabaliya para a Cidade de Gaza, disse que não esperou o início oficial do cessar-fogo.
— Esperamos por esse momento durante 16 meses. Minha alegria é indescritível. Finalmente estamos em nossa casa. Não sobrou nada, apenas escombros, mas é nossa casa. Temos sorte porque parte do teto ainda está intacta — contou a mulher de 43 anos, mãe de três filhos. — A magnitude da destruição é inimaginável. Edifícios e lugares emblemáticos desapareceram completamente, como se fosse uma cidade fantasma ou abandonada — acrescentou.
"Estou indo para Rafah"
Apesar dos danos, o domingo foi marcado por cenas de alegria e júbilo, mesmo com o atraso de várias horas no início do cessar-fogo.
Em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, uma multidão reuniu-se nas ruas para celebrar enquanto homens armados desfilavam em caminhonetes, com rifles levantados e disparando para o alto em sinal de comemoração.
Centenas de pessoas se juntaram em um cruzamento, tocando tambores, agitando bandeiras palestinas e entoando cânticos.
— Essa alegria é mais bonita do que a alegria do Eid, e esse é o prazer mais bonito. Estou indo para Rafah — disse um homem pela janela do carro, onde estava com a família.
Em Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza, os deslocados começaram a voltar para suas casas antes mesmo da entrada oficial do cessar-fogo.
Israel adiou o início da trégua por quase três horas, alegando não ter recebido uma lista de reféns que o Hamas deveria divulgar.
— Assim que voltei à cidade, senti um choque. Áreas inteiras foram completamente arrasadas — disse Ahmad al Balawi, descrevendo "corpos em decomposição, escombros e destruição por toda parte".
Os deslocados dirigiram-se a Rafah levando todos os seus pertences a pé, de bicicleta ou até mesmo em carroças puxadas por burros.
Na cidade de Nuseirat, no centro do território, crianças se aglomeraram nas ruas enquanto membros das forças de segurança do Hamas patrulhavam armados pouco antes da entrada em vigor do cessar-fogo.
Na Cidade de Gaza, algumas escavadeiras começaram a limpar as ruas dos escombros e do lixo acumulado após mais de 15 meses de guerra. Ao longe, ouvia-se o som de tiros de celebração.