O líder do grupo Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), Abu Mohammed al-Golani, foi o responsável por anunciar a derrubada do regime de Bashar al-Assad do governo sírio no domingo (8) após 24 anos. O comandante se pronunciou na TV estatal da Síria após a tomada da capital, Damasco.
Al-Golani, também conhecido como Abu Mohammed al-Jawani, tem 42 anos. Nascido em Riade, na Arábia Saudita, a família dele é originalmente de Golã, na região do sudoeste da Síria, anexada unilateralmente por Israel na década de 1970.
Ele tem se esforçado para reformular a própria imagem e a do grupo que lidera como "governo da salvação", em busca de sua legitimidade, distanciando-se de associações anteriores com a Al-Qaeda, na tentativa de conquistar governos internacionais.
Em entrevista concedida em 2021, al-Golani vestiu um blazer e negou que o seu grupo representasse uma ameaça ao Ocidente. Ele se posicionou contra as sanções impostas a ele e ao HTS, destacando uma postura mais aberta em relação às minorias religiosas e étnicas da Síria.
Atuação no Iraque
Os laços de Abu Mohammed al-Golani com a Al-Qaeda começaram em 2003, quando ele se uniu a extremistas que combatiam as tropas americanas no Iraque. Al-Golani foi detido diversas vezes pelo exército dos EUA, mas permaneceu no país durante o auge da insurgência. Naquele período, a Al-Qaeda absorveu grupos similares e criou o Estado Islâmico do Iraque, sob o comando de Abu Bakr al-Baghdadi.
Em 2011, com a revolta popular contra o ditador Bashar al-Assad e a repressão brutal do governo sírio, al-Golani foi enviado por al-Baghdadi para criar a Frente Nusra, um braço da Al-Qaeda na Síria. Os Estados Unidos classificaram a Frente Nusra como organização terrorista, status em que permanece, e oferecem uma recompensa de US$ 10 milhões por informações sobre al-Golani.
Conflito sírio
À medida em que a guerra civil da Síria se intensificava em 2013, aumentavam também as ambições de al-Golani. Ele desafiou os pedidos de al-Baghdadi para dissolver a Frente Nusra e fundi-la com a operação da Al-Qaeda no Iraque, formando o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS).
Mesmo assim, al-Golani declarou lealdade à Al-Qaeda, que mais tarde se dissociou do ISIS. A Frente Nusra combateu o ISIS e eliminou grande parte da concorrência entre a oposição armada síria a Assad. Em sua primeira entrevista, em 2014, al-Golani manteve o rosto coberto, dizendo a um repórter da Al-Jazeera que rejeitava negociações políticas em Genebra para acabar com o conflito. Ele disse que o seu objetivo era ver a Síria governada sob a lei islâmica, deixando claro que não havia espaço para as minorias alauita, xiita, drusa e cristã do país.
As declarações deixaram dúvidas sobre o tipo de governo que Al-Golani apoiaria e se os sírios o aceitariam. Porém, desde o início da ofensiva rebelde, o líder tem procurado tranquilizar as comunidades minoritárias de outras seitas e religiões.