Em viagem de 10 dias com esposa e filho para conhecer o deserto do Atacama, o porto-alegrense Rodrigo Carpi Nejar, 53 anos, promotor de justiça e escritor, decidiu incluir no roteiro Valparaíso e Viña del Mar, ambas na costa do Chile, banhadas pelo Oceano Pacífico. Foi surpreendido com uma espessa e escura fumaça anunciando os incêndios florestais que atingiram os municípios litorâneos e deixaram dezenas de mortos até a noite deste domingo (4).
Eles almoçavam em Viña del Mar na sexta-feira (2) quando foram alarmados pelo nevoeiro que àquela altura já se apropriava do horizonte. No sábado (3), ao tentar ir para a praia, descobriu que a situação estava pior. Nos celulares da família, um alarme de evacuação apitava sem cessar.
— A gente foi para o hotel e não tinha luz em toda a região. Fomos caminhar para eu trocar dinheiro e, no céu, apareciam aviões que jogavam água. Dormimos sem luz. Acordamos no sábado (3) e tentamos ir para a praia, mas estava todo o comércio fechado. Aí, descubro que já tinha um toque de recolher e só tinha algumas padarias abertas. O celular apitava sem parar apontando para Viña del Mar. Aí veio a informação de que um incêndio tinha se alastrado por várias áreas e que eram vários focos — conta o promotor, que é filho dos escritores Maria Carpi e Carlos Nejar.
Assustado com a possibilidade de não conseguirem chegar a Santiago no domingo (4), de onde deveriam pegar o avião para voltar ao Brasil, Carpi Nejar acionou a agência de viagens para tirá-los de Viña del Mar e levá-los à capital chilena já no sábado. A aflição das pessoas, o barulho das sirenes de bombeiros e a fumaça por todos os lados tornaram impossível a estadia por mais um dia.
— Pessoas desesperadas, muita gente que perdeu casas. E as casas que estão no cerro eram de pessoas mais simples. Não era só a nuvem preta, era barulho de corpo de bombeiro o tempo inteiro, além dos aviões com água para jogar no incêndio. Eu vi muito carro saindo, fugindo, muita gente correndo, assustada — diz.
Ainda no sábado à noite, Rodrigo Carpi Nejar, a esposa Ieda e o filho Francisco conseguiram chegar em Santiago. Retornaram a Porto Alegre neste domingo.
Confira a seguir o relato que foi ao ar no Gaúcha Faixa Especial, da Rádio Gaúcha: