A ordem substituiu o caos neste sábado (28) no aeroporto de Cabul, onde combatentes talibãs escoltavam um fluxo constante de afegãos dos ônibus até a o principal terminal, onde as pessoas eram entregues às tropas americanas para a operação de retirada do país.
O atentado suicida de quinta-feira, reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI) e que deixou pelo menos 85 mortos (balanço oficial, a imprensa afegã cita mais de 100 vítimas fatais), assustou muitas pessoas que tentavam fugir do país desde o retorno ao poder dos talibãs.
Mas o grupo Talibã fechou as estradas que levam ao aeroporto e agora só permite a passagem de ônibus autorizados.
Todos os afegãos que chegaram nos ônibus tiveram que deixar sua bagagem e conservar apenas o que cabe em um pequeno saco plástico.
"Por causa da explosão, os americanos não deixam levar nada", afirmou um comandante talibã. "Nós falamos para que levem seu dinheiro e ouro nos bolso. Se deixam as roupas, vamos passar para outras pessoas", completa.
Fortemente armados, combatentes talibãs circulavam pela área e os edifícios anexos do aeroporto, enquanto os soldados americanos observavam do teto do terminal de passageiro.
Depois de 20 anos de guerra, os inimigos estão separados por apenas 30 metros.
Os americanos também conseguem observar os integrantes da unidade "Badri 313", parte das forças especiais talibãs, em veículos blindados Humvee que foram tomados do exército afegão.
"Temos listas entregues pelos americanos... se o seu nome está na lista, você pode passar", disse um talibã à AFP perto do terminal de passageiros do aeroporto internacional Hamid Karzai. "Se o seu nome não está lisa, não pode entrar", completa.
Neste sábado, a AFP acompanhou a chegada de mais de 10 ônibus, com passageiros nervosos, à principal entrada do aeroporto.
Os americanos e outros países da Otan haviam programado retirar os afegãos que trabalharam para a coalizão internacional nas últimas duas décadas.
Mas os planos para a retirada foram descartados pela rapidez do avanço militar dos talibãs, que entraram em Cabul e retomaram o pode em 15 de agosto, muito antes do previsto pelos países ocidentais.
Antes do ataque violento de quinta-feira, milhares de pessoas seguiram de maneira desesperada para o aeroporto com a esperança de fugir do país.
Estes afegãos, muitos deles moradores de áreas urbanas e educados, temem que os talibãs adotem o mesmo regime fundamentalista e brutal de quando permaneceram no poder entre 1996 e 2001, apesar das repetidas promessas dos islamitas de que mudaram e não querem vingança.
Quase 112.000 pessoas, afegãs e estrangeiras, foram retiradas do país desde 14 de agosto, segundo a Casa Branca.
Um repórter fotográfico reconheceu um colega jornalista neste sábado entre os que chegaram para a operação de retirada. Este último trabalhou para o serviço de comunicação da Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf) e era considerado um possível alvo de represálias dos talibãs.
Os dois se abraçaram por alguns segundos. "Boa sorte", afirmaram ambos. Um ficou para trás e o outro embarcou em um voo rumo a uma nova vida.
* AFP