O governo dos Estados Unidos retirou o Sudão formalmente da lista de países que apoiam o terrorismo, na qual estava desde 1993, uma medida que pode estimular os investimentos estrangeiros no país.
O chefe da diplomacia americana Mike Pompeo confirmou a retirada oficial do Sudão da lista.
"A designação do Sudão como Estado patrocinador do terrorismo foi oficialmente rescindida. Isto representa uma mudança fundamental em nossa relação bilateral para uma maior colaboração e apoio à histórica transição democrática do Sudão", afirmou Pompeo em um comunicado.
A embaixada dos Estados Unidos em Cartum já havia antecipado a informação.
"Como o período de notificação no Congresso, de 45 dias, expirou, o secretário de Estado assinou uma notificação que anula a designação do Sudão como um Estado que apoia o terrorismo. A medida é efetiva a partir de 14 de dezembro", anunciou a embaixada em sua página no Facebook.
Em comunicado, o chefe da diplomacia americana afirmou que "isso representa uma mudança fundamental" na relação bilateral rumo a uma maior "colaboração e apoio à histórica transição democrática do Sudão".
"Saudamos os apelos do povo sudanês por liberdade, paz e justiça. Parabenizamos os membros do governo de transição liderado por civis por sua coragem em responder às aspirações de seus concidadãos", acrescentou Pompeo.
Washington incluiu o país na lista depois de acusar o então presidente sudanês, o islamista Omar al-Bashir, de ter relações com "organizações terroristas" como a Al-Qaeda, cujo líder, Osama bin Laden, hospedou-se no país nos anos 1990.
Esta medida tão aguardada por Cartum deve representar um golpe para a economia do país, muito debilitada. A inclusão na lista impedia outros países de fazerem negócios e investirem no Sudão, sob pena de sanções.
O secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, disse que queria trabalhar com Cartum "para ajudar a quitar suas dívidas com instituições financeiras internacionais".
E a União Europeia elogiou, declarando ser uma "etapa importante", que proporcionará uma "dinâmica positiva" para a economia sudanesa.
- "Paz legal" -
O presidente americano Donald Trump anunciou em 19 de outubro a retirada do Sudão da lista de países que apoiam o terrorismo. Notificou o Congresso somente no dia 26, depois que Cartum anunciou a normalização das relações com Israel, sob pressão de Washington.
Apesar da estratégia, as autoridades sudanesas sempre negaram qualquer tipo de "chantagem" por parte dos Estados Unidos.
Cartum continua, no entanto, à espera de obter imunidade legal nas questões relacionadas com atentados passados. Para isso, precisa de uma lei que está sendo examinada no Congresso americano.
O Congresso deve aprovar uma lei que proclame a "paz legal" com Cartum, para conceder imunidade legal como Estado nestas questões.
As negociações entre o governo Trump e o Congresso nesse sentido esbarram em várias frentes.
A decisão de Washington faz parte de um acordo que prevê que o Sudão indenize com 335 milhões de dólares os parentes das das vítimas de atentados cometidos em 1998 pelo Al-Qaeda contra as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia (mais de 200 mortos). E isto porque as autoridades sudanesas da época já haviam hospedado Osama bin Laden.
Recentemente, o Sudão expressou impaciência, lamentando que alguns "compromissos políticos e econômicos" não foram respeitados por Washington.
O país advertiu que o bloqueio poderia "atrasar a aplicação do acordo" de normalização das relações com Israel.
Washington retomou o contato com Cartum durante a presidência do democrata Barack Obama, quando Omar al-Bashir começou a cooperar na luta antiterrorista. Este processo se acelerou pela revolta popular que provocou a queda de Al-Bashir em abril de 2019.
* AFP