O presidente da Rússia, Vladimir Putin, recordou nesta quarta-feira (24) o sacrifício soviético e a dívida que, segundo ele, o mundo ainda tem com Moscou, durante as celebrações da derrota nazista. A cerimônia patriótica ocorre às vésperas do referendo que poderá permitir sua permanência no poder até 2036.
— É difícil imaginar como seria o mundo se o Exército Vermelho não tivesse saído para defendê-lo — afirmou Putin, no início do desfile que deveria ter acontecido em 9 de maio, mas foi adiado devido à pandemia do coronavírus.
Os soldados soviéticos "libertaram os países da Europa dos invasores, deram fim à tragédia do Holocausto e salvaram o povo da Alemanha do nazismo, essa ideologia mortal", completou o presidente russo diante das tropas, com uniformes cerimoniais, mas sem máscara.
O evento para celebrar os 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial incluiu o desfile de 14 mil soldados na Praça Vermelha, em Moscou, assim como tanques, mísseis, sistemas antiaéreos e aviões, incluindo alguns que participam da guerra na Síria, conflito que ilustra o retorno da influência da Rússia ao cenário internacional.
Em seu discurso, o chefe de Estado evitou críticas aos países ocidentais, os quais voltou a acusar na semana passada de "revisionismo" histórico anti-Rússia em um artigo. Também defendeu a unidade da comunidade internacional para enfrentar os desafios atuais.
— Compreendemos que é importante reforçar a amizade, a confiança entre os povos, assim como a abertura de um diálogo e uma cooperação sobre as questões atuais que estão na agenda internacional — disse.
O evento foi menos grandioso do que o previsto, devido à covid-19. Nenhum presidente, ou primeiro-ministro ocidental, estava ao lado de Vladimir Putin.
Mesmo governantes de países da ex-União Soviética não viajaram a Moscou, mas alguns aliados, como os presidentes do Cazaquistão, da Moldávia, de Belarus (Bielorrússia) e da Sérvia, estiveram presentes.
Uma semana para votar
O desfile, que também simboliza o orgulho e o poder da Rússia após 20 anos de Vladimir Putin à frente do país, acontece na véspera do referendo constitucional. Essa consulta popular busca, em especial, dar ao atual chefe de Estado a possibilidade de permanecer no poder até 2036, quando completará 84 anos.
Devido aos riscos ligados ao coronavírus e para evitar filas, os locais de votação abrirão as portas a partir desta quinta-feira (25), uma semana antes da data oficial do referendo, 1º de julho. Os russos também poderão votar pela internet.
Os opositores de Putin criticam o fato de ele ter organizado o desfile e o referendo no momento em que o país continua registrando casos de covid-19 e que Moscou, apesar da flexibilização do confinamento, proíbe manifestações públicas.
Em um discurso na terça-feira (23), o presidente russo declarou que "o combate contra a epidemia continua". O Kremlin e a prefeitura de Moscou pediram aos russos que acompanhassem o desfile pela televisão, evitando as ruas.
Com base na mudança dos dias de votação e da distribuição de máscaras e de álcool gel, o Kremlin considera que votar no referendo "não é mais perigoso do que ir ao supermercado".
Além da possibilidade de Putin de continuar a exercer o poder depois de 2024, por mais dois mandatos, a reforma constitucional confere ao presidente poderes adicionais, como a nomeação de juízes.
Anunciada para surpresa geral em janeiro e efetuada pouco antes de o coronavírus interromper o processo, a reforma também inclui na Constituição princípios conservadores venerados por Putin.
O casamento fica definido como a união entre um homem e uma mulher, o que fecha a porta para o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo.
A fé em Deus também tem espaço, uma pequena revolução em um país ainda marcado por 70 anos de ateísmo soviético, no momento que a Igreja Ortodoxa se torna um dos grandes aliados do presidente russo.
Para a oposição, a reforma tem como objetivo único dar a Putin todas as ferramentas para permanecer no poder pelo resto de sua vida.