Cinco manifestantes, entre eles quatro estudantes, morreram por disparos das forças de segurança na cidade de Al-Obeid, centro do Sudão, gerando revolta no âmbito do movimento de contestação, que denunciou um massacre e convocou novas manifestações.
"Cinco mártires foram baleados durante uma manifestação pacífica", denunciou o comitê médico ligado ao movimento de protesto sudanês em um comunicado.
A repressão também deixou um número indeterminado de feridos, acrescentou o comunicado, que não deu mais detalhes sobre as razões da manifestação.
O incidente ocorreu na véspera da retomada das negociações entre o regime militar e os líderes do protesto, para se chegar a um acordo sobre a transição política no país.
Desde dezembro de 2013, o Sudão vive um movimento de protesto popular que teve início como uma reação ao aumento do preço do pão, mas que rapidamente resultou em demandas de democratização.
O presidente Omar al Bashir, que governou o país durante 30 anos, foi destituído, e uma junta militar afirma estar disposta a liderar o país em novo regime. Suas propostas não conseguiram convencer, porém, os defensores de uma mudança política drástica.
Al Obeid é a capital do estado de Kordofan do norte e, até hoje, não havia vivido importantes manifestações contra o poder.
A mobilização popular ganhou força após a divulgação, no último sábado, de um relatório oficial que reconhece que um grupo de paramilitares estava envolvido na sangrenta dispersão de um protesto em Cartum, em 3 de junho passado.
O informe assegura que os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF) "desobedeceram às ordens" da junta militar. Os líderes do movimento de protesto rejeitam as conclusões sobre uma repressão sangrenta, que deixou pelo menos 127 mortos.
As autoridades impuseram toque de recolher noturno em Al Obeid e outras três cidades do estado de Kordofan Norte.
Um país pobre com economia enxura, o Sudão atravessa movimentos de protesto desde dezembro de 2018, desencadeados pelo aumento do preço do pão, que levaram o Exército a destituir e deter, em 11 de abril, o presidente Omar al Bashir, há 30 anos no poder.
- 'Massacre' -
Um morador da região disse à AFP por telefone que a manifestaçãod esta segunda foi organizada para protestar contra "uma penúria de pão e de combustível na cidade nos últimos dias".
"Os estudantes foram afetados pois não havia transporte para levá-los à escola", explicou. "Hoje, protestaram, e quando sua marcha chegou ao centro houve disparos".
A Associação de Profissionais Sudaneses (SPA), um dos principais organizadores do protesto, disse que houve tiros com "balas reais" contra uma concentração de estudantes.
"Pedimos a todos os cidadãos, médicos e socorristas para irem aos serviços de emergência(...) que recebem os feridos baleados com balas reais", disse o grupo em sua página no Facebook.
Pouco depois, muitos manifestantes se reuniram em Bahari, bairro do norte de Cartum, informaram testemunhas.
Uma liderança dos protestos também pediu a suspensão das discussões políticas entre o poder e a oposição.
"Não podemos nos sentar na mesa de negociação com quem matou os revolucionários", afirma um comunicado de Siddig Youssef.
A junta militar e os líderes da oposição devem retomar as negociações na terça-feira.
* AFP