O recém-nomeado presidente interino da Argélia, Abdelkader Bensalah, se comprometeu nesta terça-feira (9) a organizar, em 90 dias, "uma eleição presidencial transparente e regular", em um discurso ao país, retransmitido pela TV nacional.
"Somos obrigados a competir, cidadãos, classe política e instituições estatais, para cumprir as condições, todas as condições, de uma eleição presidencial transparente e regular, da qual seremos todos garantidores, eleições que permitirão ao nosso povo exercer sua eleição livre e soberana", disse. Também se comprometeu a organizar esta eleição em 90 dias, como prevê a Constituição.
O chefe do Senado, Abdelkader Bensalah, foi nomeado nesta terça-feira (9) presidente interino da Argélia, uma semana após a renúncia de Abdelaziz Bouteflika, uma decisão conforme a Constituição, mas contrária ao desejo dos argelinos que exigem o fim do "regime".
Reunido em sessão plenária, o Parlamento nomeou para chefe de Estado por 90 dias Bensalah, de 77 anos, presidente do Conselho da Nação (Câmara alta do Parlamento) e considerado um produto do "sistema".
Após este período de 90 dias, uma eleição presidencial deverá ser organizada e, nela, Bensalah não poderá se apresentar.
Nesta terça-feira, ao meio-dia, milhares de estudantes argelinos ocupavam as ruas do centro da capital para gritar "fora, Bensalah!".
Pela primeira vez em sete semanas de protestos, a polícia usou gás lacrimogêneo para tentar dispersar os manifestantes, constataram jornalistas da AFP. Jatos d'água também foram usados.
Apesar disso, os estudantes seguiam presentes na praça do Grande Poste, o epicentro do movimento de protesto em Argel.
O ex-presidente Bouteflika, de 82 anos, com saúde frágil desde o derrame sofrido em 2013, renunciou em 2 de abril após 20 anos no poder, sob a pressão das ruas e do Exército.
Desde 22 de fevereiro, os argelinos se manifestam contra a possibilidade de Bouteflika se apresentar para um quinto mandato nas eleições a serem realizadas em abril.
Uma semana após a saída de Bouteflika, os deputados da Assembleia Popular Nacional (APN, Câmara baixa) e do Conselho da Nação (Câmara alta) foram convocados para nomear um novo presidente interino.
Abdelkader Bensalah, presidente do Conselho da Nação por quase 17 anos, era um homem leal a Bouteflika.
"Vou trabalhar pelos interesses do povo", prometeu Bensalah ao Parlamento.
"É uma grande responsabilidade que a Constituição me impõe", acrescentou este homem que foi deputado, embaixador, senador e presidiu as duas câmaras.
O principal partido islamista da Argélia, o Movimento da Sociedade pela Paz (MSP), que apoiou Bouteflika por um tempo antes de romper com ele em 2012, anunciou na segunda-feira que iria boicotar a sessão parlamentar por sua "posição contrária às exigências do povo".
Até mesmo o jornal pró-governo El Moudjahid havia sugerido na terça-feira que Bensalah fosse descartado.
"Esta personalidade (...) não só não é tolerada pelo movimento cidadão, que exige sua saída imediata, mas também pela oposição e parte dos representantes das formações políticas da maioria das duas Câmaras do Parlamento", indicou El Moudjahid.
O problema é que o chefe do Estado-Maior do Exército, o general Ahmed Gaid Salah, de fato o novo líder do país, exige que a sucessão de Bouteflika seja feita dentro do quadro estrito da Constituição.
Já o movimento de protesto exige instituições de transição que permitam reformas profundas e eleições livres.
* AFP