Dezenas de milhares de argelinos participaram de uma manifestação nesta sexta-feira em vários pontos da capital, Argel, e outras cidades do país contra a perspectiva de um quinto mandato do presidente Abdelaziz Buteflika.
Na capital da Argélia foi registrada uma violenta repressão contra os manifestantes nas proximidades do Palácio do Governo, onde a polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água para dispersar as pessoas.
De acordo com a televisão pública argelina, que nesta sexta-feira transmitiu imagens dos protestos pela primeira vez, os distúrbios deixaram um total de 56 policiais e sete manifestantes feridos. Pelo menos 45 pessoas foram presas.
Em toda área central de Argel era possível ver fachadas de lojas destruídas, além de uma agência bancária e um automóvel incendiados, constatou um jornalista da AFP.
O correspondente da AFP também viu pelo menos uma dezena de feridos por golpes de cassetetes desferidos por policiais e a pelas explosões de bombas de efeito moral, assim como pessoas intoxicadas por gás lacrimogênio.
A onda de protestos no país foi desencadeada a partir do anúncio da decisão de Buteflika, em 10 de fevereiro, de se candidatar novamente ao cargo, que exerce desde 1999.
O presidente, de 81 anos de idade e enfraquecido desde 2013, após um AVC, foi reeleito todas as vezes.
Sem falar em público desde que sofreu o AVC, Buteflika foi internado no domingo passado em um hospital em Genebra (Suíça) para, segundo um comunicado do governo, ser submetido a "exames médicos periódicos", e seu retorno à Argelia não tem data definida.
As manifestações desta sexta-feira foram as maiores registradas até o momento.
No meio desse tumulto, o governo tem até a meia-noite do próximo domingo para oficializar a candidatura de Buteflika no Conselho Constitucional.
Apesar de serem proibidos desde 2001, protestos foram registrados também nas cidades de Blida, a terceira maior do país, Tizi-Uzu, Bejaia, Annaba, Buira, Sétif, Batna, Tiaret e Sidi Bel Abbes.
Mesmo com a pressão popular, o governo não deve ceder às reivindicações e, por conta dessa posição, observadores temem que os seguidores de Buteflika utilizem a violência contra os opositores.
Na quinta-feira, cerca de cem profissionais de meios de comunicação se manifestavam na "Praça da Liberdade e da Imprensa" para denunciar as pressões que sofrem no exercício de suas funções, devido a restrições na cobertura do atual movimento de protestos na Argélia.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro do país disse que os argelinos decidirão nas urnas se o presidente Buteflika continua sendo o presidente ou não, na primeira reação oficial desde o início dos protestos. Ele também alertou contra o risco de "excessos perigosos".
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* AFP