A Argélia esperava, neste sábado (2), a resposta do bloco presidencial às manifestações contra o quinto mandato do presidente Abdelaziz Buteflika, cuja candidatura para as eleições de 18 de abril deve ser apresentada no domingo (3), último dia do prazo.
Nenhuma autoridade argelina reagiu oficialmente à impressionante mobilização da sexta-feira (1), quando cidadãos tomaram as ruas em todo o país para expressar sua rejeição a Buteflika, que completa 82 anos neste sábado.
O chefe de Estado está hospitalizado na Suíça há seis dias, oficialmente para "exames médicos de rotina" e o seu retorno ao país não foi anunciado, faltando menos de 48 horas para o término do prazo para apresentar candidaturas, no domingo à meia-noite.
Não há, porém, qualquer regra que diga que o candidato deve comparecer pessoalmente perante o Conselho Constitucional para entregar o seu dossiê.
Ao anunciar sua candidatura para um quinto mandato presidencial em 10 de fevereiro, Buteflika (que está no poder desde 1999) desencadeou uma onda de protestos sem precedentes nos últimos 20 anos na Argélia.
O presidente, que não participa de comício público desde o derrame sofrido em 2013, não fez qualquer declaração desde o início dos protestos.
- Manifestante morto -
Ao longo da semana, o campo presidencial reafirmou que a contestação não vai impedir que as eleições sejam realizadas e que a candidatura do chefe de Estado será apresenta.
As autoridades "esperam aguentar até domingo, na esperança de que uma vez que a candidatura de Bouteflika seja apresentada e as eleições convocadas, a contestação perca força", disse à AFP um observador que pediu anonimato.
É difícil saber se a mobilização excepcional de sexta-feira vai mudar o cenário. "O regime não está acostumado a ceder nas ruas", apontou o observador. "Se recuar sobre a candidatura, até onde terá que recuar depois?"
As manifestações aconteceram pacificamente, com exceção de alguns confrontos entre jovens e policiais na sexta-feira em Argel.
O ministro do Interior, Nuredin Bedui, visitou os policiais hospitalizados à noite. Segundo a polícia, 56 agentes e sete manifestantes ficaram feridos nos confrontos em Argel e 45 pessoas foram presas.
O ministro elogiou "o profissionalismo das forças de segurança" e "que todos os cidadãos [...] expressaram seu direito à liberdade de expressão e manifestação".
Um manifestante de 56 anos morreu no tumulto provocado após a intervenção da polícia contra manifestantes, anunciou sua família nas redes sociais, sem especificar as causas da morte.
- E a oposição? -
No momento, apenas dois candidatos pouco conhecidos apresentaram oficialmente suas candidaturas, de acordo com a agência de notícias oficial APS: Ali Zeghdud, presidente do minúsculo Reagrupamento Argelino (RA), e Abdelkrim Hamadi, um independente.
A oposição, silenciada e ausente do movimento de protesto, que nasceu nas redes sociais, tentou eleger em vão um candidato de consenso.
Aparecem como possíveis candidatos: o ex-primeiro-ministro de Buteflika Ali Benfilis, que anunciará no domingo se vai concorrer novamente ou não; o general da reserva Ali Ghediri (sem partido); Abderrazak Madkri, do partido islamita Movimento da Sociedade pela Paz (MSP).
Após a apresentação das candidaturas, o Conselho Eleitoral terá dez dias para validá-las ou rejeitás.
* AFP