
Berezniki, Rússia - Dmitry Rybolovlev, o magnata russo de fertilizantes que comprou o apartamento mais caro já vendido em Nova York - uma cobertura de US$ 88 milhões com vista para o Central Park -, pode ter ajudado bastante o mercado imobiliário da região. Mas nesta velha cidade de mineração nos Montes Urais, onde ele fez sua fortuna, não são apenas os valores das propriedades que estão caindo, mas também as propriedades em si.

Fossas são perigos comuns em regiões mineradoras, assolando áreas onde mineradores atravessaram camadas de minerais solúveis e em seguida houve inundações acidentais. Mas em Berezniki, como é frequente na Rússia, o problema foi amplificado por práticas passadas onde a segurança nem sempre era a maior preocupação.
No Ocidente, as minas são geralmente localizadas longe de áreas populosas, buscando reduzir os riscos de depressões para casas e outras construções. Mas Berezniki, cidade de 154 mil habitantes que começou como campo de trabalho, foi construída diretamente sobre a mina - um legado da política soviética de montar acampamentos próximos das áreas de trabalho.
E assim Berezniki é afligida por fossas, ou sumidouros, com abismos de centenas de metros de profundidade que podem se abrir a qualquer momento. O perigo é tão grande que toda a cidade fica 24 horas sob vigilância por vídeo.
No final do ano passado, num monitor do centro de comando, surgiu uma pequena mancha escura num campo nevado, imediatamente ameaçando engolir um edifício, uma estrada e um posto de gasolina.
- Olhei aquilo e disse: 'Uau, um buraco está se formando' - contou Olga V. Chekhova, funcionária dos serviços de emergência que monitora os vídeos.
Ele era pequeno pelos padrões de Berezniki, onde surgiram três nos últimos quatro anos. Na verdade, desde então ele foi apelidado de "O Pequeno".
Embora os cientistas venham conseguindo prever o surgimento de cada buraco, os abismos podem se abrir com velocidades surpreendentes.
Em 4 de dezembro, enquanto Chekhova observava o crescimento da mancha escura em seu monitor, testemunhas começaram a ligar para o número de emergência para reportar fossas. Elas tinham ouvido um forte barulho de deslizamento.
Assim que a polícia isolou a área naquele dia, terra e neve despencaram. Antes do meio-dia, a fossa tinha 22 metros de diâmetro.
Os problemas em Berezniki foram rastreados a outubro de 2006, quando uma fonte de água doce começou a escoar para dentro da mina - onde se extrai fertilizante de potássio do sal, de 220 a 450 metros abaixo da superfície. O problema é que as paredes e colunas de sal, deixadas por mineradores para sustentar o teto de enormes cavernas subterrâneas, começaram a dissolver.
- Imagine colocar um cubo de açúcar numa xícara de chá - explicou Mikhail A. Permyakov, agrimensor chefe da Uralkali, empresa proprietária da mina. - Foi isso que aconteceu embaixo de Berezniki.
Engenheiros de mineração inicialmente tentaram manter os suportes através do bombeamento de água salgada, buscando elevar a salinidade da água interna até o ponto de saturação antes de a estrutura desabar, mas isso não funcionou.
Depois disso, o governo local adotou a política em vigor hoje, de observação cuidadosa e alerta rápido: geólogos, agrimensores e equipes de segurança usam uma série de monitores de alta tecnologia. Estes incluem o sistema de vigilância por vídeo, sensores sísmicos, inspeções regulares e monitoramento por satélite das mudanças de altitude em telhados, calçadas e ruas.
- Enfrentaremos os buracos com a ciência - disse numa entrevista o prefeito Sergei P. Dyakov.
Segundo ele, a cidade não precisará se realocar, pois engenheiros não acreditam no surgimento de novos buracos. Grande parte da mina foi preenchida antes da inundação, continuou ele, e as fossas ocorreram numa área anômala que não havia sido preenchida.
Mesmo assim, autoridades federais estão discutindo a transferência da cidade inteira para a margem oposta do Rio Kama, onde a base é de rocha sólida.
O maior buraco surgiu em julho de 2007. Segundo especialistas da Uralkali, aquele pode ser o maior sumidouro já produzido pelo homem. Os moradores, que criaram apelidos para todos os buracos, chamam-no de "O Avô".
As autoridades municipais foram obrigadas a evacuar cerca de duas mil pessoas de blocos de apartamentos na região. Atualmente, O Avô tem 310 metros de largura e 393 metros de comprimento, mergulhando direto às camadas de sal abaixo da cidade - 240 metros, ou o equivalente a um prédio de 50 andares, para baixo. Ele destruiu parte de um depósito próximo à borda.
O buraco seguinte surgiu numa noite de neve em novembro de 2010, sob um revestimento de ferrovia. Conforme a terra cedia, os trilhos ficaram um tempo suspensos sobre o abismo. Então um vagão tombou para dentro. Esse buraco ficou conhecido como "O Jovem". Ele engoliu uma fileira de galpões de armazenamento e um vagão de passageiros estacionado.
- Temos medo, mas não sabemos o que fazer - declarou Tatyana Shishkina, moradora da cidade, numa entrevista em sua sala de estar - onde o teto está rachado e parece prestes a ceder.
Cerca de 60 blocos de apartamentos, incluindo este, estão tão danificados pelo afundamento que terão de ser abandonados, mesmo sem haver depressões por perto.
- O prefeito diz uma coisa, as pessoas dizem outra. Estamos confusos.
Em 2008, uma comissão governamental inocentou Dmitry Rybolovlev, o magnata dos fertilizantes, de má conduta, culpando as antigas e perigosas práticas pelos sumidouros.
Porém, segundo um alto funcionário próximo ao primeiro-ministro Vladimir Putin, a Uralkali e Rybolovlev carregam alguma responsabilidade - embora Rybolovlev, cuja principal residência é em Mônaco, tenha vendido a mina após o surgimento do buraco Avô.
Às autoridades, resta tentar acalmar os ânimos.
- Por que se preocupar com isso o tempo todo? - questionou Natalya N. Verbitskaya, assessora de imprensa do prefeito, numa entrevista. - Vocês vão estragar seu humor.
Os críticos condenam essa abordagem "relaxe e seja feliz". Valery V. Kovbasyuk, editor de um jornal online de oposição chamado "Inaya Gazeta", diz que o governo municipal não está sendo transparente com respeito aos riscos. Além disso, ele alega que o governo transferiu moradores para novos prédios construídos no topo do cemitério do velho gulag sem remover os ossos, e que não está pagando uma indenização justa pelos apartamentos condenados.
- Em minha opinião, precisamos deslocar a cidade inteira - afirmou ele. - Todas as casas têm rachaduras.
Mas Kovbasyuk vem sendo frustrado em seus esforços por mudança. Em 2009, ele coletou 800 assinaturas por uma audiência pública sobre rachaduras em edifícios, mas no dia em que deveria apresentar as assinaturas ao Conselho Municipal, a polícia o convocou para interrogatório sob um pretexto não relacionado.
Dados do censo, no entanto, mostram que cerca de 12 mil pessoas votaram com os pés, abandonando a cidade entre 2005 e 2010. Aqueles que permanecem em Berezniki estão atentos aos buracos. E seu nome vem aparecendo em sites que atacam diretamente seu orgulho cívico, como 'Os Maiores Sumidouros do Mundo: Portas do Inferno'.
Num distrito de casas abandonadas, com paredes amarelecidas pelo mofo e janelas quebradas, antigos folhetos continuam colados nos quadros de cortiça ao lado das portas.
- Mudanças Sóbrias - diz um deles. - Movemos qualquer coisa, de pianos a cofres, montamos e desmontamos móveis. Nossos funcionários estão sempre sóbrios.