
Gravações que mostram um candidato a vereador entregando dinheiro em troca da promessa de votos motivaram a Polícia Federal a realizar, na manhã desta quarta-feira (16), uma operação no município de Alegria - cidade situada no noroeste do Rio Grande do Sul. Os vídeos são complementados por depoimentos de eleitores que dizem ter vendido apoio ao prefeito Fábio Schakofski (PSD), que foi alvo de busca e apreensão de documentos e celular. Outros alvos são o vice-prefeito, Elson Secconi (PP), e a presidente local do Partido Progressista, Darlin Luísa Pastorio.
Alegria tem 3,2 mil habitantes e vivenciou uma eleição extremamente apertada. O prefeito eleito, Fábio Schakofski (PSD), fez 1.293 votos, apenas 62 votos de diferença em relação ao segundo colocado.
O caso foi revelado pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI), que teve acesso aos vídeos (também protocolados na Justiça Eleitoral). A Justiça Eleitoral arquivou uma ação sobre esse caso, mas outra continua tramitando. No arquivamento, foi acatada posição do Ministério Público de que a veracidade dos vídeos não foi confirmada.
As gravações mostram a suposta troca de dinheiro por votos feita por um apoiador de Schakofski. As negociações são conduzidas pelo candidato a vereador Cláudio Vargas (PP). Em conversa com um eleitor, o político propõe:
— Deixo R$ 500 pra ti, aí. Vou te dar R$ 500 hoje e se eu me eleger, te dou outros R$ 500. Tu vota em mim pra vereador, o meu número tá aqui ó...11.622. E vota também pro 55 (número do candidato a prefeito que ele apoia) — orienta Vargas, estendendo um panfleto colorido com a foto do candidato a prefeito Fábio Schakofski e do vice dele, Elson Secconi.
O eleitor responde:
— Feito.
No total, seriam pagos ao eleitor R$ 1 mil para votar em Vargas e no candidato a prefeito apoiado por ele.
Existem vídeos também de entrega de dinheiro a uma eleitora. Além disso, eleitores confirmaram na Justiça terem vendido votos à coligação vencedora do pleito em Alegria. Alguns fizeram isso em troca de rancho e até animais para abate, como porcos.

Apesar do esforço, Vargas não se elegeu. Ele é investigado, mas não foi alvo na ação da PF desta quarta-feira.
Schakofski e Secconi negam ter solicitado que Vargas oferecesse dinheiro em troca de votos (leia mais abaixo). O GDI entrevistou uma testemunha de defesa do prefeito e do vice, que não quer ter seu nome mencionado. Esse declarante afirma que as gravações são uma "armação" feita por um adversário para prejudicar Schakofski e Secconi. O homem afirma que assistiu a um ensaio da gravação, sem presença de eleitores.
— Foi uma briga interna no PP e um ex-vereador simulou a compra de votos — assegura a testemunha.
Os delitos investigados em relação aos três políticos são abuso de poder econômico e captação ilícita de sufrágio (também chamado corrupção eleitoral). Os dois enquadramentos preveem cassação do registro e reclusão de até quatro anos a quem "dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita".
Contraponto
O que dizem o prefeito de Alegria, Fábio Schakofski, o vice-prefeito, Elson Secconi, e a presidente do PP local, Darlin Luísa Pastorio:
O advogado dos três, Lucas Guilherme Klipstein, considera a ação da PF temerária.
— Por ora, ainda não temos acesso completo ao expediente que deu origem à busca e apreensão. Porém, com base na decisão que deferiu a representação policial, posso adiantar que foi medida temerária. Ao que tudo indica, unicamente em razão de vídeos fraudulentos produzidos pós eleição. Aguardaremos o final das investigações, com a tranquilidade de que não houve qualquer crime eleitoral ao longo de toda campanha, ao menos, não por parte dos candidatos vencedores — resume Klipstein.
O que diz Cláudio Vargas:
A reportagem tentou sete vezes contato com o candidato a vereador, mas ele não atendeu. O espaço segue aberto para manifestação.