![André Horta / Agência Lancepress! André Horta / Agência Lancepress!](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/23393784.jpg?w=700)
O juiz Marcos La Porta da Silva, da 17ª Vara Criminal de Porto Alegre, aceitou as denúncias do Ministério Público e tornou réus os 14 acusados de participação em crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa, falsidade ideológica e estelionato contra o Sport Club Internacional durante os anos de 2015 e 2016.
Com o recebimento por parte do Judiciário, passam a ser oficialmente réus os ex-dirigentes colorados Vitorio Piffero, Pedro Affatato, Emídio Marques Ferreira e Carlos Pellegrini, além de empresários do futebol e ex-funcionários do clube.
"De posse de todos os elementos angariados durante a investigação, viável concluir pela presença de indícios de autoria e materialidade a autorizar, ao menos nesta fase, o prosseguimento do feito. Ressalto, por fim, que a denúncia descreveu fatos que caracterizam ilícitos penais, impondo-se, assim, seu recebimento, para que, processada, permita aos denunciados a apresentação de defesa, com a instrumentalização do contraditório, na forma da legislação processual penal. Sendo assim, recebo a denúncia. Citem-se os réus para que, no prazo de dez dias, apresentem, por escrito, resposta à acusação", despachou o juiz La Porta, já dando andamento ao processo com abertura de período para defesa prévia.
O trecho acima se refere aos seis réus ligados ao núcleo do futebol, encabeçado por Pellegrini e integrado por empresários.
Despacho semelhante foi emitido pelo magistrado para tornar réus os oito denunciados no núcleo de obras, em que notas falsas teriam sido usadas para justificar saques feitos junto ao caixa do clube. Nesta esfera, passam a responder criminalmente Piffero, Affatato e Ferreira, ex-dirigentes colorados, além de engenheiros e um contador. Dois familiares de Affatato também se tornaram réus.
Os nomes dos reús
Vitorio Piffero, ex-presidente
Pedro Affatato, ex-vice de Finanças
Emídio Marques Ferreira, ex-vice de Patrimônio
Carlos Pellegrini, ex-vice de futebol
Carlos Eduardo Marques, engenheiro do clube
Ricardo Bohrer Simões, empresário
Adão Silmar de Fraga Feijó, contador
Paola Affatato, empresária e irmã de Pedro
Arturo Affatato, empresário e irmão de Pedro
Rogério Braun, empresário de futebol
Paulo Cézar Magalhães, tio do ex-lateral do Inter de mesmo nome
Giuliano Bertolucci, empresário de futebol
Fernando Otto, empresário de futebol
Carlos Alberto de Oliveira Fedato, empresário de futebol
GaúchaZH está entrando em contato com os acusados para que emitam um posicionamento.
Contrapontos
Fernando Otto , por meio do advogado Jonatas Silva de Souza
"Só iremos nos manifestar depois de termos acesso ao teor da denúncia, o que ainda não ocorreu."
Giuliano Bertolucci, por meio do advogado Roberto Podval
"Ainda não fomos intimados a apresentar a defesa, estamos no início de um processo no qual não temos nenhuma dúvida de que o Giuliano será excluído dessas acusações."
Ricardo Bohrer Simões, por meio do advogado Rafael Ariza
"Ainda não tivemos acesso à denúncia, e somente após conhecer seu conteúdo poderemos fazer qualquer manifestação"
Adão Silmar, por meio do advogado Rafael Ariza
"Ainda não tivemos acesso à denúncia, e somente após conhecer seu conteúdo poderemos fazer qualquer manifestação"
Rogério Braun, por meio do advogado Aury Lopes Jr.
"A defesa não concorda com a acusação. Existe um erro de interpretação dos fatos por parte do Ministério Público em relação ao Rogério, que não cometeu nenhum crime, não obteve nenhuma vantagem ilícita, também não causou nenhum prejuízo ao Inter. Ele atuou de forma correta, ética e lícita, como sempre fez enquanto agente de jogador de futebol e vai comprovar a sua inocência e o erro da acusação dentro do processo"
Arturo Affatato, por meio do advogado Maurício Tasca
"A respeito destas acusações, embora o ônus de provar estes fatos seja do Ministério Público, a defesa demonstrará durante a tramitação do processo que os delitos apontados na denúncia contra Arturo Affatato não existiram. As notas apontadas na denúncia dizem respeito a serviços que foram prestados."
Pedro Affatato, por meio do advogado Andrei Zenker
"A defesa nega todas as acusações, mas irá se manifestar somente nos autos do processo."
Paola Affatato, por meio do advogado Maurício Tasca
"Com relação à sócia Paola, a denúncia imputa a ela a prática do delito de lavagem de dinheiro em razão de ela ser sócia da empresa. Não há, nas 75 páginas da denúncia, qualquer referência a algum ato praticado por ela. Ou seja, ela foi denunciada pelo simples fato de ser sócia da empresa. Essa ausência de descrição específica com relação a isso inviabiliza o direito de defesa dela."
Carlos Pellegrini, por meio do advogado Jorge Teixeira
"Nós já estávamos esperando que o juiz aceitasse a denúncia. Já estamos de posse da denúncia.
É uma denúncia muito fraca. Uma denúncia onde o Ministério Público faz uma afirmação que o doutor Carlos Pellegrini teria obtido pelo menos, essa é a expressão usada na denúncia, pelo menos a quantia tal, dá o valor da quantia, de prejuízo ao Sport Club Internacional. Onde é que está o prejuízo? E a denúncia não é afirmativa. A investigação investiga durante dois anos e diz que causou pelo menos o prejuízo? Não, tem que afirmar qual é o prejuízo. O que que ele obteve para si, o valor correto. E não 'pelo menos o prejuízo'.
Outra coisa que o Ministério Público afirma na denúncia é que o doutor Carlos Pellegrini agiu de forma dissimulada para obter esses valores indevidos. Como assim, de forma dissimulada? Se o Ministério Público pediu a quebra de sigilo bancário.
A única conta corrente bancária do doutor Pellegrini no Banrisul onde foram depositados valores de atletas que eram clientes dele como advogado, e ele tratou no processo desse atleta, recebeu honorários de trabalho, honorários advocatícios. Depositaram na sua conta valores de custas processuais, despesas de viagem, custos de processos. O processo tramitava no Interior. Então esses valores um atleta depositou. Por quê? Porque eram honorários advocatícios. Eram despesas com processos. E não comissão por ter contratado esse atleta. Isso não é verdade. Não existe forma dissimulada. Forma dissimulada é dar em dinheiro, uma mala de dinheiro. Depositar no Exterior, como a gente vê diariamente nessas corrupções que acontecem. Corruptos depositam em contas do Exterior, recebem malas de dinheiro, caixas de dinheiro. E não um depósito na única conta corrente que ele tem, onde ele paga suas contas. Que forma dissimulada é essa? Como é que faz uma afirmação dessas?
Em todas as contratações do Sport Club Internacional, é um colegiado que decide, nunca o vice-presidente de futebol decide sozinho. Então vai do presidente, o vice-presidente de futebol está envolvido, o diretor de futebol, o departamento médico, a comissão técnica, psicólogos, o Capa, que é o Centro de Análise de Prospecção de Atletas. Então são várias pessoas que sabem. Mas aí só o vice-presidente de futebol que recebe uma comissão indevida? E os outros, não receberiam? Não iam querer também uma comissão?
Durante toda a investigação nós explicamos isso ao Ministério Público. Não aceitaram nossas explicações, agora nós vamos defender no Judiciário. Evidente que eu entendo que uma investigação onde envolve, segundo o Internacional, segundo o Ministério Público, um prejuízo de R$ 13 milhões, evidente que num clube de futebol, o departamento de futebol não pode ficar de fora. Mas, se realmente o prejuízo foi de R$ 13 milhões, não passou pelo departamento de futebol. O departamento de futebol não tem nada que ver com nota fiscal fria, não tem nada que ver com o Centro de Treinamento, não tem nada que ver com empresa de faxada. O departamento de futebol não tem nada a ver com isso.
Outra coisa interessante também, é que os jogadores mais caros contratados na gestão Pellegrini, que foi Nico López, que, segundo o próprio Sport Club Internacional, foi a contratação mais cara, o Marcelo Lomba, também um atleta valorizado, o Danilo Fernandes também. Então, destes atletas valorizados, envolveram muito mais dinheiro, o doutor Carlos Pellegrini não recebeu nada? Mas ele recebia, segundo a afirmação do Ministério Público, e desses atletas não recebeu nada? Aí diz que recebeu do Réver. O Réver foi contratado em janeiro de 2015, e o Doutor Carlos Pellegrini assumiu em julho de 2015. Então não tem absolutamente nada a ver com a contratação do Réver, mas está na denúncia. Então, além de não aceitar nossas explicações, ainda não têm o cuidado de verificar que foi em janeiro e o doutor Carlos Pellegrini assumiu em julho. Nós agora vamos contestar tudo. O empresário Rogério Braun depositou na conta do Pellegrini. Depositou. A empresa do Rogério Braun organizou o quarto congresso de futebol, que aconteceu na Arena do Grêmio em novembro de 2016. Mas o Pellegrini nem era mais o vice-presidente de futebol nessa época.
E ele precisava de patrocínio pra este evento. Falou com o Carlos Pellegrini, uma pessoa bem relacionada. Tu conhece alguém, alguma empresa que possa patrocinar. E o Pellegrini conversou diretamente com o Noveletto, da Federação Gaúcha de Futebol, que patrocinou este evento. Uma empresa do Rio de Janeiro, Golden Goal, de artigos esportivos, por intermédio do Carlos Pellegrini, patrocinou este evento. Pellegrini não sabe nem quais são os valores do patrocínio. Mas depois a empresa do Rogério Braun depositou uma comissão para o Pellegrini, na conta dele. Isso aí não tem nada a ver com atleta, com contratação de atleta. Então, tudo se explicou. Não aceitaram a explicação, agora vamos contestar. E eu confio na Justiça. Nós vamos atrás de justiça. Eu tenho convicção, certeza, que o doutor Carlos Pellegrini não tem culpa, não agiu de forma incorreta, não agiu de forma desonesta, como afirma a denúncia do Ministério Público."
Josiane Leal Schambeck, advogada de Emídio Ferreira
"A defesa de Emídio Ferreira ainda não teve contato com o conteúdo da denúncia e se manifestará assim que tiver"
A reportagem segue tentando contato com os outros acusados.