Resultado parcial do grupo de trabalho Alimento Seguro, criado em janeiro deste ano pelo governo estadual, mostra redução do percentual de hortigranjeiros considerados impróprios para o consumo humano devido ao uso irregular de agrotóxicos no Estado. De 73 amostras coletadas na Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa), com resultado divulgado nesta quarta-feira (13), oito apresentaram inconformidades – cinco de morango e três de abobrinha. No total, serão analisadas 240 amostras – 167 delas aguardam conclusão dos exames de laboratório.
Entre os casos em desconformidade, um é de uso de produto químico proibido no Brasil. As demais sete irregularidades são relacionadas a agrotóxicos não permitidos para aquela cultura agrícola.
Os resultados de 2017 significaram queda nas amostragens problemáticas. Em 2016, o índice atingiu 35% e, neste ano, caiu para 11,4%.
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O programa Alimento Seguro, que reúne Secretaria do Desenvolvimento Rural, Emater e Ceasa, foi criado após a publicação da reportagem Perigo no Prato, em dezembro de 2016, pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI), que testou os níveis de agrotóxicos em hortifrútis vendidos na central de abastecimento. Legumes e fruta foram examinadas em laboratório da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e o resultado apontou contaminação de 45% das amostras. Elas continham níveis de pesticida acima do tolerado ou com resíduo de químicos inapropriados para aquela cultura. Um dos alimentos apresentou resíduo de agrotóxico proibido no Brasil.
O GDI testou, no total, 20 amostras de hortifrutigranjeiros: alface, cenoura, pimentão, pepino e morango, sendo quatro de cada item, colhidas em diferentes bancas da Ceasa.
Os maiores índices de impropriedade foram verificados no morango e no pimentão, com três das quatro amostras identificadas cientificamente como inadequadas. Alface, cenoura e pepino tiveram uma entre quatro análises reprovadas cada.
Especialistas e organizações renomadas como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) asseguram que o consumo de produtos com excesso de agrotóxicos podem causar prejuízos à saúde no longo prazo.
Diretor-técnico da Ceasa e coordenador do Alimento Seguro, Aílton dos Santos Machado, que anunciou a queda nos níveis de hortifrútis impróprios, avaliou que a capacitação técnica dos produtores rurais contribuiu para a qualificação dos alimentos vendidos na central.
Com mais de mil produtores rurais treinados em 2017, por meio de curso de boas práticas oferecido pela Emater, a meta é passar de dois mil treinamentos em 2018 – quando será obrigatória a participação dos agricultores que quiserem continuar entregando à Ceasa. A intenção é dar continuidade também aos seminários regionais de sensibilização, realizados em quatro municípios gaúchos neste ano.
– O produtor de hortigranjeiros normalmente tem idade avançada e baixa escolaridade, por isso a importância de orientá-los para que não comentam equívocos – completa Machado.
A reportagem Perigo no Prato ainda revelou que Ceasa e outros órgãos de controle negligenciavam, há quatro anos, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a central e o Ministério Público para monitorar e melhorar a qualidade dos alimentos que abastecem quase a metade das casas e restaurantes do Estado.
O pacto, que prevê a realização e emissão de laudos de 20 testes de laboratório ao mês, jamais havia sido cumprido integralmente até o final de 2016 – outro item que apresentou melhora a partir de 2017, também após a publicação da reportagem, com aumento na quantidade de coletas para análise. Neste item, houve pouco avanço na celeridade dos exames de laboratório, que seguem em ritmo lento. Autoridades estaduais já tinham conhecimento dos níveis de contaminação dos alimentos comercializados na Ceasa. Nas análises feitas pelo TAC, no Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen), dos 200 hortifrútis da central analisados entre 2013 e 2015, 69 foram considerados inapropriados devido à presença irregular de agrotóxicos, o que equivale a 34,5% do total.
O GDI verificou que agricultores e expositores condenados pela Justiça pelo uso abusivo de agrotóxicos seguiam comercializando as mesmas variedades contaminadas na Ceasa, sem a aplicação das punições previstas no TAC.
Depois de a reportagem revelar a falha, a Ceasa mudou procedimentos. Em janeiro de 2017, 18 produtores foram penalizados pelo abuso de pesticidas. Quatro deles eram reincidentes e tiveram o direito de comercializar uma variedade de hortifrúti por 30 dias. Nesta quarta-feira, Machado informou que um dos produtores de morango, que usou agroquímico proibido no Brasil, terá de ficar um ano sem vender esta qualidade de fruta na central. A sanção é prevista no TAC, que passou a ser observado com maior rigor.