Em reportagem especial sobre irregularidades nos serviços da Cootravipa, a principal terceirizada de Porto Alegre, ZH monitorou por três meses o trabalho de equipes para o DEP.
A seguir, veja casos em que as equipes da cooperativa – contratada para fazer a manutenção de redes pluviais, essenciais para evitar enchentes na cidade – trabalham um número de horas menor que o estipulado em contrato, têm baixa produtividade e menos funcionários do que o previsto.
Jornada de quatro horas
18 de abril
A equipe usando o caminhão placas IIV-8926 sai da seção Leste às 9h5min. Às 9h22min, ocorre a primeira parada, na Avenida Oscar Pereira, no bairro Glória, onde espalham cones, mas não fazem nenhum serviço. Sete minutos depois, nova parada na mesma rua. Um bueiro é analisado, mas também não há manutenção. Às 9h48min, a equipe se reúne para verificar a tampa quebrada de outro bueiro, também na Oscar Pereira. Por 10 minutos, conversam no local.
O primeiro serviço começa efetivamente às 10h02min, quase uma hora depois de sair da seção, na Rua Capitão Padilha, Glória. O conserto é em dois equipamentos de drenagem, e é feito em 39 minutos. A turma se dirige de volta para a seção, onde chega às 11h03min. No trajeto, para em uma loja de materiais de construção.
O trabalho de toda a manhã durou duas horas e foi feito em apenas dois equipamentos de drenagem. É de 2h40min o intervalo de almoço: a equipe só sai novamente às 13h44min. E encerra o turno da tarde às 16h21min, quando o caminhão ingressa novamente na seção. Apesar de o contrato com o DEP prever oito horas diárias, o dia de trabalho foi de quatro horas e 36 minutos.
Atrasos são regra
24 de março
São 8h30min – meia hora depois do começo do expediente – e funcionários da Cootravipa ainda atravessam a Avenida Sertório em direção a uma lancheria. O primeiro caminhão com uma turma só sai da seção às 8h52min, com quase uma hora de atraso. O total de turmas da cooperativa previsto em contrato para a Seção Norte do DEP é 14. ZH verificou que, até às 10h, 13 equipes haviam saído. O mesmo ocorreu em 30 de março, quando 13 turmas estavam na rua até as 10h – nenhuma saiu no horário previsto para o início do trabalho, 8h.
Serviço incompleto, problema recorrente
12 de abril
A equipe do caminhão placas IQA-5465 sai da seção às 9h26min e faz a primeira parada 12 minutos depois, na Avenida Francisco Petuco, Bairro Boa Vista, para limpar dois equipamentos de drenagem. Às 10h, a turma já está em uma esquina da Rua Sapé, Bairro Passo da Areia, próximo à Praça Dr. Gastão Santos. A equipe sai do caminhão, conversa, olha para o chão, um dos funcionários fala ao celular. Um funcionário usa a picareta para abrir um poço de visita, que fica sobre a calçada, enquanto quatro observam. Às 10h18min, a abertura está concluída e o grupo levanta a tampa. Dois vão até outro equipamento de drenagem, um bueiro, e também levantam a tampa para olhar. O trabalho de abertura de tampas se encerra às 10h27min.
Um morador da região, que não quis se identificar, relatou ter feito oito ligações para o DEP desde janeiro pedindo conserto na rede pluvial. Quando chove, a água, em vez de ser sugada para a rede, transbordava e causa alagamentos em casas e comércios. Naquele manhã, a equipe não fez nada: um supervisor teria de ir ao local. Segundo o mesmo morador, duas semanas antes, outra equipe já havia passado para avaliar o problema.
Só à tarde a Cootravipa voltou para desobstruir a rede. Mais uma vez, porém, deixou trabalho para trás. Um pedaço da tampa do poço de visita que foi aberto ficou quebrada, sem conserto. E o bueiro instalado junto ao outro poço de visita seguiu como estava, completamente destruído. Ou seja: a rede subterrânea foi desentupida, mas o bueiro, que é o canal de entrada da água da chuva para a rede, seguia bloqueado no dia 26.
Funcionários sem proteção
12 de abril
Às 10h47min, a equipe começa um serviço na Rua Tunísia, na Vila Ipiranga. No local, a tampa de um poço de visita está quebrada. Um morador relatou ter pedido o conserto três meses antes. Enquanto cimento é preparado, dois funcionários da Cootravipa ficam sentados na calçada. Depois, dois sentam na escadaria de uma praça para fumar. É possível perceber que integrantes da turma estão sem todos os equipamento de proteção individual previstos, como sapatos adequados e luvas. Um deles, inclusive, machuca a mão durante o trabalho. Às 11h5min, a equipe sai do local. Às 11h18min, menos de duas horas depois de começar o expediente, a equipe está de volta. O trabalho de toda a manhã: limpeza de dois bueiros, de um poço de visita e conserto de uma tampa.
Manhã improdutiva
6 de abril
Neste dia, entre 8h45min e 9h03min, nove turmas saíram da Seção Norte. ZH seguiu o caminhão placas IIG-9298, que chegou meia hora depois ao local de trabalho, a Rua Gen Telino Chagastelles, no bairro Rubem Berta. Também estavam no local uma caçamba e uma retroescavadeira. Menos de uma hora depois, a retroescavadeira e a caçamba vão embora. Às 10h32min, o caminhão sai do local. Às 10h57min, o veículo com a turma da Cootravipa está de volta à seção.
Trabalho de toda a manhã: três veículos em um local para apenas a abertura de poço de visita para avaliação. O problema no bairro é a rede pluvial entupida – assim, quando chove forte, os pátios das casas da rua alagam. Uma moradora que não quis se identificar disse que essa foi a terceira visita de uma equipe do DEP desde dezembro, sem que houvesse uma solução do problema. Naquele dia, só abriram tampas para olhar e informaram que era preciso que um "supervisor" fosse ao local para definir o serviço. Até a última sexta-feira (26 de maio), não haviam retornado.