A despedida do inspirador fotojornalista Ricardo Chaves, o Kadão, foi um encontro de gerações e personalidades renomadas do jornalismo gaúcho. Para os filhos, Letânia Chaves e Leonel Chaves, o velório, que ocorreu neste sábado (5) no Crematório Metropolitano, refletiu a pessoa que ele foi.
O caçula, que homenageou o pai ao batizar o próprio filho com o mesmo nome, exaltou a personalidade do Kadão e o poder dele preencher os espaços onde estava. Para Leonel, a presença das diversas pessoas representa a generosidade e lealdade do pai.
— Uma coisa que eu acho curiosa, é que ele sempre se cobrou muito por não ser presente, mas eu nunca senti a ausência dele. Na época do jornalismo, ele viajava muito, passava às vezes 30 dias em uma cobertura e eu nunca achei ele ausente de casa. Não sei, ele tinha um poder de quando chegar, preencher. Foi um grande pai, um cara exemplar, me ajudou demais. Não à toa botei o nome do meu filho, o nome dele. Sou eternamente grato, tenho o coração preenchido dessa gratidão — relembrou Leonel.
Entre lágrimas, Letânia agradeceu a presença de todos ao discursar. Revelou que as córneas do fotojornalista foram doadas e possibilitaram que quatro pessoas voltassem a enxergar. De acordo com a família e amigos, ele era uma pessoa com valores fortes e determinados, tendo entre eles a solidariedade. A doação, conforme Letânia, representou o último ato do pai.
Me bateu muito forte isso do meu pai, fotógrafo por tanto tempo, saber que as córneas dele, que viram todos esses acontecimentos, bons e ruins, agora vão estar por aí. Fiquei muito feliz com isso, meu irmão e minha mãe também
LETÂNIA CHAVES
Filha do fotojornalista Kadão
Ao som de aplausos e da música Além do Horizonte, na voz da cantora Nara Leão, o caixão, levando o corpo de Ricardo Chaves, foi visto pela última vez pelos amigos e familiares. Em meio às emoções, gritos de gratidão, “obrigada Kadão”, surgiram e também foram ouvidos durante a despedida.
Um legado de amigos e colegas
O legado de Kadão se perpetua através de uma geração de fotógrafos. Como chefe da editoria de fotografia da Zero Hora, inspirou e ajudou diversos profissionais da área. Júlio Cordeiro, que ocupou na época a vaga deixada por Kadão no comando da editoria, contou como foi trabalhar 25 anos ao lado do amigo.
— Trabalhar com o Kadão, ele como fotógrafo era só um detalhe. Porque a bagagem dele, o repertório, a vivência, a pessoa humana que ele era, era uma alma muito afortunada e eu aprendi muito, muito, muito com ele. Acho que as pessoas que conviveram com ele tiveram muita sorte. E ter trabalhado diretamente ao lado dele, como fotógrafo e depois como editor, foi um privilégio mesmo — revela Cordeiro.
Amigo de Hamilton Chaves, pai de Kadão, e do próprio Ricardo, o jornalista Elmar Bones detalhou a dedicação do fotojornalista à profissão. Os dois foram colegas na redação da revista Veja, ainda no início da carreira de Kadão.
— Ele era bem principiante, era bem novinho, bem iniciante. Mas ele sempre foi muito, muito, muito criterioso, muito dedicado, muito detalhista. E uma outra característica dele, que eu sempre ressalto, era a generosidade. Ele ensinou muitos fotógrafos. Ele tinha essa dedicação por ensinar a profissão para os outros — comenta.