
Quem ligasse para a prefeitura de São Pedro do Sul ou de Tupanciretã, nesta segunda-feira (17), perceberia um curto silêncio seguido por um sinal de ocupado. Por mais vezes que tentasse, não conseguiria ser atendido. Telefones residenciais, comerciais e de emergência também apresentam problemas em cidades da Região Central, como Santa Maria.
A razão disso é um cenário de interrupções no serviço e instabilidade na rede de telefonia fixa envolvendo a empresa Oi — a única disponível em algumas cidades gaúchas de menor porte. A empresa argumenta que está ocorrendo uma "migração de tecnologia" com a intenção de melhorar a qualidade. Em nota, a Oi afirma que não há mais a obrigação de oferecer sinal fixo onde há a disponibilidade do serviço de voz (leia a íntegra abaixo).
Contudo, moradores e gestores públicos se queixam de perda de comunicação. Como resultado das dificuldades técnicas registradas, as prefeituras vêm apelando para o uso de celulares e endereços de e-mail para manter o contato da população com órgãos públicos, como unidades básicas de saúde.
— O prédio da prefeitura está sem telefone, apenas com celulares, porque a Oi está tirando todos os cabos — lamenta o prefeito de Tupanciretã, Gustavo Terra.
Terra, que preside a Associação de Municípios da Região Central, afirma que terá uma reunião nesta terça-feira (18) com os demais prefeitos da área para ter uma avaliação mais precisa sobre a extensão dos transtornos.
Serviços essenciais
A dificuldade também afeta serviços de emergência como o da Brigada Militar. Em São Pedro do Sul, a corporação conseguiu restabelecer o atendimento por meio da vinculação do número 190 à internet depois de ficar dias fora do ar.
— Ficou um período sem funcionar, mas agora conseguimos recuperar. A ligação é completada, pela internet, com o auxílio de um aplicativo. Fica sujeito às oscilações da internet, não está 100%, mas está operando — afirma o sargento Sidnei Della Justina.
Os ramais das secretarias de São Pedro do Sul, porém, seguem sem atender — assim como boa parte dos números residenciais e comerciais do município de 15,5 mil habitantes.
Órgãos que prestam serviços essenciais também relatam problemas de instabilidade em municípios de maior porte da região. De acordo com reportagem publicada em GZH no dia 12 de março, telefones de emergência registram falhas há mais de um ano em Santa Maria. Um levantamento aponta que, em pelo menos 15 oportunidades, os números tradicionais de órgãos como Brigada Militar, Bombeiros e Samu saíram do ar temporariamente e precisaram ser substituídos por canais alternativos.
— Ficar sem um número de emergência é algo muito grave. É como se um pronto-socorro ficasse fechado — compara o comandante da BM em Santa Maria, coronel Cleberson Bastianello.
"Reféns" dos celulares
Segundo informações da Oi, a antiga rede de telefonia fixa, composta por cabos de cobre, está sendo desativada em favor de alternativas de transmissão de dados via internet, como uma tecnologia chamada UC4X. Conforme a presidente da Associação Comercial e Industrial de São Pedro do Sul, Gláucia Gutheil, a transição apresenta problemas.
— Os telefones fixos residenciais e comerciais estão sendo desabilitados, e toda a cidade está sendo impactada pela perda dos telefones fixos. A alternativa que a própria Oi ofereceu, a migração para a tecnologia UC4X, deixa muito a desejar. Praticamente não funciona. Estamos reféns da comunicação por telefonia móvel que, obviamente, depende de sinal e de energia.
Conforme Gláucia, o comércio sofre com a perda dos canais tradicionais de contato com a clientela.
— O comércio, em cidades pequenas como a nossa, não tem como não ser impactado. Falta comunicação com o cliente, que sabia de cor o número das empresas locais — conta a presidente da ACI.
Em Faxinal do Soturno, o número principal da prefeitura estava funcionando na tarde desta segunda, mas o contato com outras secretarias e estabelecimentos como unidades de saúde precisava ser feito por meio de números de celular divulgados pela administração via redes sociais. Conforme o prefeito, Lourenço Domingos Moro, a cidade enfrenta dificuldades para conseguir resposta da Oi a pedidos de conserto e manutenção.
— De um ano para cá, os problemas vêm se agravando. Solicitávamos serviços de manutenção, mas ficavam jogando a culpa em uma coisa ou outra. Os telefones dos postos de saúde ficaram desativados, o que causou um grande transtorno. Agora, adotamos celulares e pretendemos seguir assim até que a operadora garanta que o serviço vai funcionar adequadamente — diz Moro.
O que diz a operadora Oi
Em nota enviada nesta segunda, a Oi afirmou que, "com a mudança do modelo de atuação de concessão para autorização, a companhia deixou de ter a obrigação de oferecer o serviço de telefonia fixa nas localidades onde há alternativas de serviço de voz".
Na semana passada, em contraponto a uma reportagem sobre problemas relatados em Santa Maria, a empresa enviou nota dizendo que "vem trabalhando junto com órgãos públicos na migração da tecnologia de cobre, que é mais suscetível a problemas, para terminais sobre fibra óptica e tecnologia UC4X com o objetivo de melhorar a qualidade da rede".