A Polícia Civil ouviu, na terça-feira (12), as primeiras testemunhas no caso da jovem indígena que sofreu queimaduras após acidente com um aparelho de fondue em Rio Grande, no sul do Estado. O episódio aconteceu quando Jaqueline Tedesco, 26 anos, comemorava a formatura durante um jantar, com amigos e familiares, em um restaurante no sábado (9).
— Ouvimos algumas pessoas envolvidas e seguiremos com as oitivas e outras diligências. Não vou antecipar o teor para não atrapalhar as oitivas pendentes — afirmou o delegado Maiquel Fonseca.
A formanda está em coma induzido na Santa Casa de Rio Grande, com 30% do corpo queimado. Nas redes sociais, o namorado, Jariel Zacca, escreveu uma mensagem desejando a recuperação de Jaqueline.
"Ainda processando como um momento tão alegre, se transformou rapidamente na maior tristeza. Que Deus te abençoe e te proteja, estou incluindo você em todas as minhas orações e pensamentos positivos", escreveu.
O que se sabe e o que falta saber
O que aconteceu
Jaqueline Tedesco comemorava sua formatura em Direito em um jantar na noite de sábado (9) em um restaurante do município. Havia um aparelho de fondue sobre a mesa em que a jovem estava, acompanhada de familiares e amigos.
Segundo relatos feito à polícia, uma garrafa de álcool teria pegado fogo quando uma funcionária do restaurante tentava reabastecer. A formanda então foi atingida pelas chamas.
Quem é a formanda
Jaqueline, 26 anos, é natural de Planalto, no norte do Rio Grande do Sul. A jovem faz parte da comunidade indígena caingangue.
Estudante do curso de Direito, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), ela foi a primeira mulher indígena a ocupar a coordenação-geral do Diretório Central de Estudantes (DCE) da instituição. A formanda também é militante do Movimento Kizomba.
Qual o estado de saúde dela
Jaqueline sofreu queimaduras em 30% do corpo e foi internada na UTI da Santa Casa de Rio Grande em coma induzido.
O que a polícia apura
A Polícia Civil ainda procura entender o que aconteceu. A investigação busca familiares, funcionários, proprietários do restaurante e testemunhas para depoimentos.
— Ainda é cedo para imputar responsabilidades — disse o delegado.
O delegado ainda aguarda o resultado de perícias e a análise de eventuais imagens que possam ter registrado o ocorrido.
O relato do namorado
Jariel Zacca, namorado da Jaqueline, disse que viu o vestido dela pegando fogo. Ele contou que sofreu queimaduras no antebraço e que a sogra ficou queimada no peito na tentativa de socorrer a formanda.
— Quando vi que ela estava com fogo no vestido, fiquei nervoso e rasguei o vestido dela para tirar o fogo. Levei ela na cozinha do restaurante para colocar embaixo d'água e amenizar o fogo. A ambulância foi chamada e ela foi para o hospital — relatou.
O que diz o restaurante
Em uma nota publicada nas redes sociais, o restaurante afirma que o "incidente ocorreu nо reabastecimento do rechaud, o qual continha resquício de chama, resultando no espalhamento e ferimento em uma de nossas colaboradoras e cliente".
O restaurante também aponta que "imediatamente ao fato, prestamos toda assistência à colaboradora e à cliente, e estamos acompanhando de perto a recuperação". O estabelecimento ainda diz trabalhar "para entender a causa exata e implementar redobrada medida preventiva para garantir que tal fato não aconteça novamente".
Na quinta-feira (14), os advogados Affonso Celso Pupe Neto e Eduardo Pias Silva, que representam o restaurante Le Petit, enviaram nota a GZH.
Leia a íntegra do texto:
"Em razão do evento acidental ocorrido na data de 09/03/2024 nas dependências de nosso restaurante, informamos que, diferentemente de algumas notícias e manifestações lançadas em redes sociais, desde o evento acidental ocorrido na data 09/03 com Jaqueline Tedesco, a empresa e seus administradores vêm prestando toda a assistência material que é solicitada pela família de Jaqueline, bem como, sistematicamente, buscando obter informações atualizadas sobre seu estado de saúde.
Independentemente do trâmite dos procedimentos legais de apuração dos fatos (os quais ainda se encontram em estágio embrionário e não tiveram conclusão final emitida pelas autoridades), desde o acontecido o restaurante Le Petit se prontificou e, efetivamente, passou a contribuir com o custeio das necessidades indicadas pelos familiares da jovem (medicamentos, transporte e insumos requisitados por seus familiares), assim agindo como forma de demonstração real de respeito e solidariedade a situação após o incidente, sentimentos esses que são inabaláveis em nossa cultura corporativa.
Além disso, tão logo instados pela autoridade policial responsável pela apuração dos fatos – a qual, registre-se, até o momento, vem conduzindo os trabalhos de forma célere e comprometida com a compreensão da realidade –, os administradores do restaurante passaram a colaborar imediatamente para os esclarecimentos necessários, na pois possuem absoluta confiança no trabalho dos órgãos do Estado e em suas vindouras conclusões, detendo, assim, total convicção de que a investigação, com base em indícios e provas concretas, revelará a realidade ocorrida.
Como referido, para além de qualquer questão relacionada ao mérito do evento e sua definitiva apuração, o restaurante, através de seus administradores, possui como filosofia existencial o absoluto respeito por todos os seus consumidores e é concretamente solidário a Jaqueline e seus familiares.
Restaurante Le Petit
através de seus advogados."