Oito anos depois, Donald Trump volta a participar da cerimônia de posse de presidente dos Estados Unidos. Se em 2020 ele não transmitiu o cargo para Joe Biden, desta vez ele retorna para prestar juramento diante do Capitólio como 47º presidente da maior potência do planeta. O ato está marcado para começar ao meio-dia (horário de Washington), 14h no horário de Brasília, nesta segunda-feira (20).
Logo após o anúncio de que havia vencido a eleição contra Kamala Harris — conquistou 312 delegados contra 226 da democrata — Trump retomou as publicações nas redes sociais, coletivas de imprensa desconexas, retórica sombria e pronunciamentos confusos sobre política externa, apontam analistas.
Antes de voltar a ocupar o Salão Oval da Casa Branca, o republicano bilionário de 78 anos falou sobre uma "era de ouro" com promessas de deportações em massa e redução de impostos.
— Esta será a era de ouro da América, uma vitória magnífica para o povo americano. A América nos deu um grande mandato — disse Trump na ocasião das eleições.
Apontou, ainda, que era hora de colocar de lado as divisões políticas que ocorreram nos EUA nos últimos quatro anos.
— Vamos colocar a América em primeiro lugar, nosso futuro será mais forte e seguro. Eu não vou descansar até devolver uma América segura e próspera que merecemos.
O que esperar do novo mandato
— Se você gostou do Trump Um, você vai amar o Trump Dois — disse à AFP Peter Loge, diretor da Escola de Mídia e Relações Públicas da Universidade George Washington.
Apesar de todas as conversas anteriores sobre um Trump mais disciplinado, o homem que tomará posse parece, de muitas maneiras, ser a mesma figura instável de oito anos atrás.
— A personalidade de Trump é fundamentalmente a mesma — disse David Greenberg, professor de história e jornalismo na Universidade Rutgers.
Trump tem a maioria na Câmara de Representantes e no Senado. Além disso, o próprio partido Republicano espelha as suas ideias.
— O trumpismo é o Partido Republicano hoje — disse Jon Rogowski, da Universidade de Chicago, acrescentando que Trump agora é "mais palatável para uma gama mais ampla do espectro político".
Enquanto os críticos alertam para os traços autoritários — uma "ameaça à democracia", nas palavras do presidente em fim de mandato, Joe Biden —, Trump se tornou, de muitas maneiras, o "novo normal" dos Estados Unidos.
Pouco se fala, por enquanto, sobre como Trump deixou o cargo em desgraça depois que seus apoiadores, que rejeitaram a eleição de Biden, atacaram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021. O fato de que ele será o primeiro presidente condenado mal parece ter ressoado.
Trump também começará com pressa, sabendo que está limitado a mais quatro anos. Espera-se que ele assine cerca de cem ações executivas em suas primeiras horas como presidente.
Os primeiros cem dias provavelmente se concentrarão na imigração e na economia, os pontos fortes de sua campanha eleitoral. Há burburinhos de promessas de lealdade aos servidores públicos.
Trump também escolheu um gabinete inflexível e controverso, incluindo o cético em relação às vacinas Robert F. Kennedy Jr. para o cargo de secretário da Saúde.
No cenário mundial, Trump está mais provocador do que nunca. Ele se recusou a descartar uma ação militar para tomar à força a estratégica Groenlândia e o Canal do Panamá.
Por outro lado, o republicano diz que deseja manter conversas com os líderes da Rússia e da China. Sobre a questão climática, ele parece pronto para retirar Washington dos acordos globais mais uma vez.
— Uma metáfora muito boa para o presidente Trump é a luta livre profissional. As pessoas se machucam, mas o ponto não é o esporte, o ponto é o espetáculo — disse Loge.
Sete pontos do governo
Trump promete que irá deportar imigrantes ilegais, acabar com a guerra na Ucrânia e aumentar taxas para produtos importados pelos EUA.
Em seu discurso de vitória, Trump disse:
— Irei governar com um lema simples: promessa feita, promessa mantida. Vamos cumprir nossas promessas.
Deportação em massa
Ao longo da campanha e após ser eleito, Trump prometeu realizar a maior operação de deportação em massa de imigrantes ilegais na história dos EUA.
Medidas econômicas
Abolição do imposto sobre os pagamentos de seguridade social e redução do imposto corporativo.
Trump propôs novas tarifas de pelo menos 10% sobre a maioria dos produtos estrangeiros.
Questão climática
Trump falou que irá novamente cortar regulamentações ambientais, especialmente como uma forma de ajudar a indústria automobilística americana. Ele também se comprometeu a aumentar a produção de combustíveis fósseis, prometendo "perfuração, perfuração, perfuração".
Trump quer abrir áreas como a região selvagem do Ártico para a extração de petróleo.
"Drill, baby, drill" (Perfure, querida, perfure), tem sido o lema repetido várias vezes por Donald Trump.
— Temos mais ouro líquido do que qualquer país do mundo — afirma o presidente eleito dos Estados Unidos
Guerra da Ucrânia
Trump criticou os gastos do atual governo para apoiar a Ucrânia em sua guerra contra a Rússia. Além disso, prometeu acabar com o conflito "em 24 horas" por meio de um acordo negociado.
Em relação ao conflito em Gaza, o republicano se posicionou como um forte defensor de Israel, mas pediu que o aliado americano encerre sua operação no território.
Aborto
Contra o desejo de alguns de seus apoiadores, Trump afirmou durante o debate presidencial com Kamala Harris que não sancionaria uma proibição nacional do aborto.
O próprio Trump tem afirmado regularmente que os Estados deveriam ser livres para decidir suas próprias leis sobre o aborto, mas tem dificuldade em manter uma mensagem consistente sobre o tema.
Perdão a alguns manifestantes do 6 de janeiro
Trump afirmou que irá perdoar alguns dos condenados pela invasão do Capitólio em janeiro de 2021 quando seus apoiadores tentaram impedir a vitória eleitoral de Joe Biden em 2020.
Demitir o procurador especial Jack Smith
Trump prometeu demitir "em dois segundos" o promotor veterano que lidera duas investigações criminais contra ele.
O procurador especial Jack Smith indiciou Trump por ter tentado reverter a eleição de 2020 e por sua conduta irregular na guarda de documentos secretos.
Brics
No final de novembro Trump ameaçou impor tarifas de 100% aos países do grupo Brics se estes tentarem acabar com a prevalência internacional do dólar.
"Pedimos que se comprometam (...) a não criar nunca uma nova moeda do Brics, e a não apoiar nenhuma outra moeda para substituir o possante dólar americano, ou enfrentarão tarifas de 100%", escreveu Trump em sua rede Truth Social, em referência ao grupo de países que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul entre outros.
A declaração ocorreu depois de uma cúpula do Brics em Kazan, na Rússia, onde os países-membros do grupo discutiram como impulsionar transações em outras divisas diferentes do dólar americano e fortalecer as moedas locais.
Canadá, Groenlândia e Canal do Panamá
Desde o início de fevereiro, o republicano está falando, em discursos públicos e nas redes sociais, sobre "conquistar" territórios como o Canadá, a Groenlândia e Canal do Panamá.