O advogado Jader Marques, que representa o sócio da Boate Kiss Elisandro Callegaro Spohr, recebeu determinação judicial para apagar três vídeos postados em suas redes sociais em que questionava a denúncia do Ministério Público no processo relacionado ao incêndio que deixou 242 mortos em 2013,e m Santa Maria. A determinação, em caráter liminar, foi publicada na tarde de sexta-feira (9) e Marques já apagou as postagens.
"Informo que, em respeito à decisão judicial proferida em ação proposta contra mim, retirei os três vídeos postados sobre o Caso Kiss e deixo de fazer demais publicações que faria" escreveu o advogado na legenda de uma foto em preto e branco com a mensagem "conteúdo removido por determinação judicial".
Um quarto vídeo, que reproduz parte da série da Netflix "Todo dia a mesma noite", quando uma das personagens diz que um promotor sabia das irregularidades da Kiss e mesmo assim a deixou aberta, permanece na página do defensor. .
O processo de "tutela antecipada antecedente" corre em segredo de justiça, por isso o teor não é revelado. No entanto, GZH apurou que ele foi movido pelo ex-procurador-geral de Justiça do Ministério Público, Marcelo Lemos Dornelles, que deixou o cargo nesta semana.
— Essa ação tramita sob sigilo judicial, já determinado pela magistrada inclusive. Por essa razão, qualquer comentário sobre o assunto ofende essa ordem judicial já proferida — informou o advogado Marcelo Almeida Sant'anna, que representa o procurador neste processo.
A Associação do Ministério Público do RS também informou que apenas indicou o advogado e que o assunto é de caráter pessoal do procurador, portanto, não tem propriedade para comentar o assunto.
Dornelles era um dos promotores citado por Jader Marques nos vídeos apagados. O advogado criticava a ausência de gestores públicos na denúncia do Ministério Público. O inquérito da Polícia Civil indiciou 16 pessoas, sendo nove por homicídio com dolo eventual. No entanto, quatro foram denunciados e levados a júri — os sócios Elisandro Spohr e Mauro Hoffmann, o músico Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor Luciano Bonilha Leão.
— O que que sobra para a defesa? O que sobra para mim? Um advogado, uma pessoa física, com a sua luta processual. Sobra para mim as redes socais. É o que estou fazendo, usando as redes para esclarecer o meu ponto de vista — disse Jader Marques ao ser questionado por GZH sobre a ação.
Os quatro réus foram condenados em dezembro de 2021, mas o Tribunal de Justiça anulou o júri no ano seguinte, por entender que houve uma série de irregularidades. Na próxima terça-feira (13), o acórdão que anulou o julgamento será analisado pelo Superior Tribunal de Justiça, que pode manter ou reverter a decisão.