Esta reportagem foi produzida por Pedro de Almeida Figueiredo, aluno de Jornalismo na UfPel e finalista da edição 2021 do projeto Primeira Pauta RBS, uma iniciativa do Grupo RBS.
Na sombra, embalada pelas apresentações ao vivo de músicos locais — com backing vocal de pardais e tico-ticos —, uma feira incentiva hábitos de produção e consumo de alimentos mais saudáveis em Arroio Grande, na Região Sul. O Coletivo de Agroecologia da Fronteira Sul, fundado há um ano, mobilizou-se para promover a Feira da Agricultura Ecológica, Familiar, Solidária e Sociocultural.
Nas bancas, encontram-se frutas e hortaliças sem agrotóxicos, petiscos caninos caseiros e artesanato. A organizadora Adalice Kosby, 56 anos, sempre chega por último, ajeitando os detalhes finais. E, mesmo ocupados, os participantes conferem se não faltou toalha em algum estande.
Com início às 9h, o encontro estimula, um sábado por mês, desde setembro, o diálogo entre os produtores e a comunidade, conscientizando sobre os riscos do uso de defensivos agrícolas. A atividade é realizada em uma área coberta, na Praça dos Camelôs, no centro da cidade de pouco mais de 18 mil habitantes. A prefeitura reformou a praça e assumiu a agenda cultural. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais ajuda no transporte.
O encontro busca valorizar os produtos da região e incentivar os expositores a desenvolverem juntos os seus potenciais. Líder do grupo, a agrônoma arroio-grandense Josiéle Rodrigues, 25 anos, idealizou o projeto a partir do sonho de divulgar esse estilo de vida, baseado nos pilares ciência, prática e movimento. Para a mestranda em Agroecologia, é viável investir em um sistema amigo da saúde, do bolso e do ambiente.
— Os produtos agroecológicos têm um preço acima do convencional, e aumentar a produção é uma forma de baratear e torná-los acessíveis — explica Josiéle.
A produtora e administradora Adalice, amiga e parceira da agrônoma na realização do evento, acredita que a pandemia contribuiu para que as pessoas procurassem mais bem-estar.
— O cultivo livre de agroquímicos é mais benéfico para quem consome e para quem produz — argumenta Adalice.
Como exemplo, a Chácara das Camélias, propriedade da família Kosby, na zona urbana, opera um modelo de negócio sustentável. Liderado por Adalice e o marido, Renato, o projeto utiliza insumos naturais em verduras, frutas, legumes, flores e plantas medicinais. O empreendimento gera quatro empregos diretos e é aberto a visitantes que desejam conhecer o modo de produção.
— Começamos com cinco clientes fixos, em 2019, e hoje temos 40 — orgulha-se Adalice.
Por ser aos finais de semana, fora do seu horário de trabalho, a turismóloga Jéssica Bonneau, 24 anos, espera tornar o passeio na feira um hábito.
— A qualidade do produto é melhor, e o contato direto com quem plantou é outro diferencial — elogia Jéssica.
Rumo à terceira edição, a feira já recebeu mais de 40 expositores. A curto prazo, o Coletivo de Agroecologia da Fronteira Sul espera formar uma parceria com o comércio local para disponibilizar os itens dos produtores filiados nas prateleiras.
— Juntos podemos ir mais longe — aposta Adalice.