GaúchaZH examinou o Sumário Estatístico do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), concluído este ano e que investigou 1.187 acidentes e 513 incidentes aéreos no Brasil ocorridos em uma década (de 2008 a 2017). O órgão trabalha com dois conceitos.
Acidente
- Ocorrências que envolvem pessoas com lesão grave ou morte, aeronave com dano ou desaparecida ou, ainda, que esteja em local inacessível.
Incidentes
- Com elevado risco de acidente, relacionado à operação de uma aeronave.
Pelos dados do Cenipa (abaixo), duas das três maiores causas de acidentes e incidentes podem estar presentes no voo fatídico do cantor Gabriel Diniz – neste caso, contudo, nada está definido, porque a investigação está no início.
Acidentes aéreos: estatísticas entre 2008-2017
- Acidentes: 1.187
- Incidentes graves: 513
- Modelos de aeronaves: 120
Causas e momentos de acidentes e de incidentes aéreos
Acidentes
- Os tipos de ocorrência mais frequentes entre 2008 e 2017 foram: falha do motor em voo (20,7%), perda de controle no solo (no pouso ou na decolagem, 16,4%) e perda de controle em voo (15,8%), que representam 53% do total de acidentes
- Estados que mais registram acidentes: SP (19,9%), MT (11,4%), RS (11,0%) e PR (7,7%)
- Tipo de voo mais envolvido em acidentes: privado (42,20%), agrícola (25,76%), instrução (15,27%) e táxi aéreo (8,81%)
- Maioria dos acidentes ocorre na decolagem (19,46%) ou pouso (17,28%)
Incidentes
- Os tipos de ocorrência mais frequentes entre 2008 e 2017 foram: perda de controle no solo (24,2%), falha com trem de pouso (17,3%) e falha do motor em voo (13,1%), que representam 54.6% do total de incidentes graves
- Estados que mais registram incidentes graves: SP (20,7%), MG (9,2%), PR (8,8%) e RS (8,4%)
- Tipo de voo mais envolvido em incidentes graves: privado (34,62%), instrução (25,58%), táxi aéreo (14,62%) e regular de empresa (11,92%)
- Maioria dos incidentes acontece no pouso (30,58%) ou corrida pós-pouso (20%)
Perda de controle em voo matou Fernandão, Zavaschi e Eduardo Campos
Além de Gabriel Diniz, três outras celebridades brasileiras morreram recentemente em episódios de perda de controle da aeronave por parte dos pilotos
Fernandão
Ídolo do Inter e do Goiás, o jogador Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão, 36 anos, morreu na queda de um helicóptero em 7 de junho de 2014, em Aruanã (GO). O acidente ocorreu de madrugada, logo após o grupo deixar um acampamento às margens do Rio Araguaia em direção à cidade.
A aeronave foi encontrada ainda próxima ao rio. O relatório do Cenipa apontou que o piloto, Milton Ananias, não tinha habilitação para fazer voo noturno, e que a jornada de trabalho foi prorrogada além do que determinam as regras da aviação. Ele teria entrado em desorientação, causada pela ausência de iluminação no solo; fadiga, pela prorrogada jornada de trabalho; e ilusões visuais, devido à "má percepção do horizonte". Foi o típico caso de CFIT (sigla em inglês que significa Colisão com o Solo em Voo Controlado).
Eduardo Campos
Ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência da República, Eduardo Campos morreu quando o jato em que viajava bateu, na cidade de Santos, em 13 de agosto de 2014.
O Cenipa apontou como causas as condições meteorológicas adversas ("próximas dos mínimos de segurança, com chuva e nuvens") e desorientação espacial dos pilotos. Teriam confundido céu com mar. Eles estavam sob estresse, com elevada carga de trabalho, não tinham treinamento adequado e sofreram uma possível perda da consciência situacional.
Teori Zavascki
O ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki morreu num acidente com um avião turboélice em 19 de janeiro de 2017, em Parati (RJ).
O Cenipa apontou como causas do desastre o mau tempo (chovia muito na região), pressão para operar em condições adversas (o piloto foi orientado a pousar, insistentemente), baixa visibilidade (o avião tentou o pouso com teto aquém do mínimo) e desorientação espacial do piloto.
A conclusão é de que o piloto confundiu céu e mar.
Outros tipos de acidente
Voo Gol 1907
O jato Boeing 737 que decolou de Manaus em 29 de setembro de 2006 colidiu em voo com um jato executivo Embraer Legacy 600. Todos os 154 ocupantes do Boeing morreram na queda da aeronave. Todos os tripulantes do outro avião sobreviveram, apesar dos danos no aparelho.
O acidente foi uma típica Perda de Controle em Voo. O Cenipa concluiu que o desastre foi causado por erros cometidos tanto pelos controladores de tráfego aéreo (que colocaram os dois aviões na mesma rota) quanto pelos pilotos do Legacy, que desligaram um aparelho que alertaria contra colisões aéreas.
Cessna 310
No último dia 15 de abril, um avião Cessna 310 tentou decolar de uma pista de chão batido em Barão do Melgaço (MT), no Pantanal, e não conseguiu. A aeronave derrapou, danificou o trem de pouso e acabou dentro da água, ficando parcialmente submersa. Foi a típica Perda de Controle em Solo.