Uma travessia rodoviária direta entre Triunfo e General Câmara é desejo antigo de quem mora ou transita pelas duas cidades, localizadas na intersecção entre as regiões Carbonífera, Metropolitana e os vales do Rio Pardo e Taquari. Em vez de criar uma estrutura do zero, as duas prefeituras estão sugerindo adaptar a ponte exclusiva para trens sobre o Rio Taquari, no limite dos municípios, em rodoferroviária.
Ao conectar duas das mais importantes rodovias gaúchas – BRs 290 e 386 –, o investimento encurtaria a distância em quase 60 quilômetros do atual traçado rodoviário, que passa pela Capital, e reduziria o tempo de quem opta por atravessar o Rio Taquari de balsa – sendo que há três pontos de travessia por água na região, ligando General Câmara a Taquari, São Jerônimo e Triunfo. Nesta última, as balsas não têm capacidade para veículos de carga.
— Seria otimizar uma travessia já existente e que é subutilizada – defende o prefeito de Triunfo, Valdair Gabriel Kuhn (PSB).
Os produtos que mais cruzam a região na boleia de caminhões são soja, milho e madeira. A travessia rodoviária poderia aumentar a quantidade dessas mercadorias e tornar-se rota de outras matérias-primas, desafogando o fluxo que, para ir e voltar do porto de Rio Grande, atualmente se utiliza das estradas da Região Metropolitana.
A ideia inicial de adaptar a Ponte do Barreto partiu do engenheiro civil Douglas Vieira de Vargas, que foi funcionário da América Latina Logística (ALL), empresa comprada pela Rumo Logística e que assumiu a concessão da ferrovia que liga Porto Alegre a Santa Maria, o que inclui a sugerida ponte.
— Me dei conta de que é algo relativamente simples e umas 20 vezes mais barato do que uma nova. Levei a sugestão ao prefeito — conta Vargas, estimando que a adequação da ponte custaria em torno de R$ 7 milhões.
Alternativas para viabilizar a obra
Conforme o especialista em ferrovias, a principal obra necessária é o assoalhamento da ponte, que significa substituir os dormentes (peças de madeira sobre as quais os trilhos são assentados) por plataforma mais alta, permitindo a passagem de carros e caminhões sem que tenham contato com as lâminas de aço, mas mantendo uma fresta para as rodas dos trens.
O cálculo do engenheiro prevê o aterro das duas cabeceiras da ponte, onde seriam construídos os acessos para automóveis bem como de cancelas para controlar o trânsito – que seguiria sendo de mão única, com prioridade para os trens – e guaritas de controle com vigias, semelhante aos pedágios.
Para Helton Barreto (PP), prefeito de General Câmara, há três formas de tirar o projeto do papel: o governo federal assumir a obra, já que todas as ferrovias do país são responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), as duas prefeituras envolvidas realizarem parceria, ou via licitação, de forma que uma concessionária realize os investimentos e, como contrapartida, cobre pedágio.
— A última é a mais viável, porque todas as administrações públicas passam por dificuldades financeiras — pondera Barreto.
Com mais de cem anos, quase 350 metros de extensão e enquadramento metálico de cinco metros de altura, a ponte está sob administração da Rumo Logística. Conforme a concessionária, por ela circulam uma média de dois trens por dia, carregados com combustível, grãos e cimento. A empresa se diz contrária à ideia de adaptar a ponte para circulação de veículos rodoviários.
"A referida ponte não reúne condições mínimas, sob os aspectos estruturais e geométricos, para a conversão do tráfego ferroviário para rodoviário de forma direta. As alterações necessárias, tais como construção do tabuleiro (pavimentação rodoviária) e alargamentos do gabarito acrescentariam pesos consideráveis, colocando em risco a segurança da operação devido ao desgaste na estrutura que foi projetada exclusivamente para trens", diz a empresa em nota, na qual classifica o projeto como "inviável e oneroso economicamente".
A superintendência gaúcha do Dnit limitou-se a dizer que a ponte está concedida com operação para ferrovia e que, portanto, "não é possível a utilização rodoviária". Já a Secretaria Estadual de Transportes diz que não foi oficialmente comunicada, mas que, apesar de a obra não constar no Plano Estadual de Logística e Transporte (Pelt-RS), lançado em março deste ano, "apoia propostas que tenham como objetivo reduzir o custo logístico e impulsionar o desenvolvimento e a competitividade das respectivas regiões do Estado".