Ao tomar posse neste domingo, o prefeito eleito de Porto Alegre, Nelson Marchezan (PSDB), deixou de lado o perfil pragmático, de executivo de grande empresa, para assumir um discurso mais emotivo. Diante de familiares, apoiadores e subordinados, prometeu lutar pela parcela da população que "sequer tem voz para ser escutada" e disse que Porto Alegre precisa deixar de ser "como Gabriela", a famosa personagem de Jorge Amado – que, como diz a velha canção, "nasceu assim, cresceu assim e vai ser sempre assim".
– Não, não e não. Porto Alegre pode ser muito melhor de se viver – completou, sob fortes aplausos.
Durante os discursos na Câmara de Vereadores e no palco montado no Largo Glênio Peres, no Centro, Marchezan confirmou que, nos próximos dias, adotará medidas duras para combater a crise nas finanças. Uma delas, segundo o secretário municipal da Fazenda, Leonardo Busatto, será pedir de imediato que os secretários façam um pente-fino nos contratos de cada área – entre eles os que envolvem carros alugados, que custam mais de R$ 30 milhões à prefeitura por ano.
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Em diferentes momentos, Marchezan deixou claro que "os desafios são sérios, são reais, são grandes e são muitos". Afirmou que não vencerá esses obstáculos com "discursos fáceis ou fórmulas velhas e simples cosmética política". Voltou a pedir o auxílio da sociedade.
– Vamos precisar de ajuda da Câmara, dos servidores municipais, dos partidos políticos, para que possamos nos adequar a essa nova realidade – disse o gestor.
No Legislativo, mandou um recado claro aos parlamentares: não colocará interesses escusos à frente dos desejos coletivos.
– Nem sempre o interesse partidário, o interesse sindical, das corporações públicas e privadas, o interesse da imprensa e dos empresários, nem sempre o interesse mais legítimo dos indivíduos está ligado ao interesse público. Muitas vezes, esses interesses são contrários aos interesses coletivos. E esse é o grande desafio. O desafio é buscar, acima de tudo isso, o interesse público, aquele que nós prometemos na campanha – afirmou.
Ao recordar a disputa eleitoral, Marchezan contou que ele e o vice-prefeito, Gustavo Paim (PP), amadureceram e aprenderam com os adversários, citando Luciana Genro (PSOL) e Maurício Dziedricki (PTB). Depois até agradeceu a Sebastião Melo (PMDB), com quem trocou farpas no segundo turno, e disse que pedirá ajuda ao ex-prefeito José Fortunati (PDT), a quem chamou de "magrão". Mais uma vez, prometeu cumprir todos os compromissos de campanha.
– O nosso contrato com o cidadão de Porto Alegre ficou registrado em cada programa de TV e de rádio, e tenho a convicção de que todos os compromissos nós poderemos cumprir. Normalmente o período de campanha acaba, e as ações ficam diferentes dos discursos. Nós aqui não estamos iniciando uma jornada para algum outro cargo. Estamos iniciando uma jornada de quatro anos – destacou.
Também prometeu transparência e um "novo senso de responsabilidade". Mas admitiu que não conseguirá fazer isso sozinho.
– Se queremos mudanças, devemos construí-las. Se queremos de fato remover gargalos, temos de ser capazes de mexer nas raízes, romper com as inércias – concluiu.
Emocionou-se ao recordar do pai, de quem herdou o nome, falecido em 2002 de uma parada cardíaca, e ao agradecer a presença da mãe, Maria Helena, 75 anos, na primeira fila da estrutura montada em frente ao Mercado Público. Fez questão de subir ao palco com o filho, Nelson Marchezan Neto, oito anos.
Ao final, concluiu a manifestação pedindo "audácia" e "ousadia" da equipe. E fez mais uma promessa:
- Nós não vamos decepcionar.