Levantamento preliminar da Defesa Civil e da prefeitura de Santa Vitória do Palmar indica que pelo menos cem casas foram danificadas pela ressaca, provocada por um ciclone extratropical, na Praia do Hermenegildo, no Litoral Sul. Segundo o secretário de Obras do município, Tiago Correa Silveira, 40 residências foram totalmente destruídas e outras 60 tiveram sérios danos estruturais e correm o risco de desabar. A prefeitura estuda decretar situação de emergência.
– O que ainda não caiu, vai cair – diz o secretário, ressaltando que o cenário é de desolação e o clima no balneário, de "completo desconsolo".
As fortes rajadas de vento começaram na quinta-feira, e os estragos ocorreram principalmente à noite. Os moradores do balneário – cerca de 800 famílias residem no local – estão sem luz desde quinta. Na manhã de sexta-feira, a praia do Hermenegildo lembrava um cenário de guerra.
– É terra arrasada. As pessoas perderam tudo. Vi cama, sofá e pedaços de madeira boiando no mar – conta o funcionário público Jesus Samuel Rocha da Silva, 53 anos.
A maioria das residências que foram derrubadas pelas ondas são casas de veraneio. Construídas na faixa de areia, estavam a poucos metros do mar. A escrivã aposentada Nadima Rodrigues Gonzalez, 64 anos, moradora de Santa Vitória do Palmar, teve a casa de dois andares praticamente engolida pelo mar. Há 30 anos, ela e a família passavam os meses de verão no local. Os três filhos cresceram brincando nas areias do balneário.
– É muito triste. As paredes da casa, que era o nosso sonho, foram trituradas. Todos os verões, a gente reunia a família – conta Nadima, que agora planeja reconstruir a residência para que, ainda neste verão, o neto Conrado, de nove meses, possa ensaiar na casa de praia seus primeiros passos.
Proprietário do Bar Farofa, Luiz Carlos Medeiros, 47 anos, ainda nem havia iniciado a recuperação dos estragos provocados por um vendaval meses atrás. O estabelecimento, ironicamente localizado na avenida Mar da Tranquilidade, foi novamente afetado pela intempérie. Medeiros não sabe se vai valer a pena abrir o bar nesta temporada, de janeiro a março, como vinha fazendo há cinco anos.
– Considerando o que vou ter que investir em reforma, a expectativa de lucro já está comprometida – lamenta.
Moradores mais antigos do balneário dizem que nunca viram uma ressaca tão forte quanto esta. A última a provocar grandes estragos ocorreu na década de 1990, mas o número de casas danificadas foi bem inferior ao atual. Agora, a prefeitura de Santa Vitória do Palmar terá que correr contra o tempo para minimizar prejuízos. Toda a orla terá que ser reconstruída, incluindo 26 acessos de pedestres.
– O estrago foi grande. Nosso balneário vai ficar completamente destruído, o que vai prejudicar a temporada – avalia o prefeito Eduardo Morrone (PT).
Segundo ele, existem restrições para as novas construções na faixa de areia, que deverão ser observadas agora no processo de reconstrução. O prefeito reconhece a existência de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), o qual ordena que o município tenha um plano de manejo das dunas costeiras. No entanto, diz que não há nenhuma determinação específica quanto às casas construídas no passado.
* Zero Hora