Perder um ente querido, ter dificuldades em aceitar as mudanças do corpo e do papel que desempenha na comunidade, a aposentaria e a saída dos filhos de casa são fatores importantes para desencadear a depressão na pessoa idosa. Quando comparado ao adulto jovem, o risco de a doença chegar depois dos 60 anos é maior. A aposentada Marisia Terezinha Miranda de Oliveira, 75 anos, sofreu de depressão por quatro anos.
– Comecei a ficar depressiva no trabalho. Era muito incômodo. Tive problemas familiares e mais a morte de três primos. Juntou tudo. Nnão via graça em nada e não queria me misturar com ninguém, só sumir. Apaguei para a vida. Foi uma fase muito triste – conta.
Os sintomas começaram a aparecer há cerca de 14 anos. Marisia deixou de usar maquiagem, algo que adorava, tinha raiva dela mesma, só ficava no quarto, tinha dores de cabeça, tonturas e pressão alta.
– Tive uma fase em que nem eu me aguentava. Minha vida social ficou muito prejudicada. Eu não ia a lugar nenhum. Foi quando, com muita persistência, fui arrumando atividades – diz.
A superação da Marisia iniciou quando ela foi participar de um concurso de beleza, aprendeu a fazer bordado e entrou para o grupo Mexe Coração. Além disso, ela fez psicoterapia e tomou medicamentos por quatro anos.
– Eu bordava dia e noite. Isso ajudou a me sentir viva. Já o Mexe Coração é tudo pra mim. Minha mãe me deu a primeira vida e o grupo, a segunda – salienta.
Confusão mental, dores no corpo e irritação são sintomas
A depressão pode se manifestar em qualquer pessoa. Tristeza crônica, choros compulsivos e apatia são alguns dos sintomas nos adultos. Nos idosos, a doença pode aparecer de forma diferente. Diminuição no apetite, alteração do sono, pensamentos negativos e confusão mental se somam a queixas físicas. O doente reclama que falta tônus muscular para fazer alguma atividade, fica mais irritado, e, às vezes, até um pouco agressivo ou tolerante – sintomas parecidos com a depressão em crianças e adolescentes.
Esses sinais podem ser confundidos com sintomas iniciais de demência. Quando o idoso entra em um quadro depressivo, ele reduz a atenção, fica mais introspectivo, com perda de memória, e esses sintomas mascaram ou se confundem com um quadro demencial. A depressão também faz com que o idoso fique mais tempo parado, o que ocasiona uma perda funcional, aumentando o risco de quedas.
– Deprimido, você se volta para dentro, para o mundo interno, e o mundo externo perde a importância. Você se importa com o seu problema, sua perda, frustração ou você se abala com uma autoimagem depreciativa, e o maior contato com as doenças crônicas, que fazem com que você perceba suas limitações. Tudo isso pode gerar a depressão – explica Valmari Cristina Aranha, psicóloga do serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Mal pode gerar outras doenças
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a depressão é uma das mais graves doenças crônicas a tratar no país, atingindo cerca de 9,2% dos idosos. A psicóloga acrescenta que a depressão, quando não descoberta e tratada, pode causar outras doenças.
– Alguns exemplos são ansiedade, demência, mal de Alzheimer, além do risco de suicídio, que é duas vezes maior entre os idosos não deprimidos – diz a psicóloga e especialista em saúde coletiva Marinelza Morais, que atua no Banco da Esperança e na Clínica Inovar, em Santa Maria.
A especialista acrescenta que é importante que os familiares reconhecem os sintomas da doença. Quanto mais rápido for o diagnóstico, mais eficiente será o tratamento – que pode incluir psicoterapia, atividades físicas e medicamentos, dependendo do caso.
– O idoso deve passear, viajar, estudar, procurar grupos da terceira idade, o que é muito importante, pois vão encontrar pessoas da mesma idade para interagir e fazer novas amizades – diz Marinelza.
Confira perguntas e respostas sobre o tema:
Quais sinais da depressão que a família precisa ficar atenta?
Se o idoso se perceber diferente, deixando de gostar de coisas que gostava antes, ou se sentir mais incomodado, a família precisa prestar a atenção. Também se ele tiver muitas dores físicas generalizadas, e os exames não apontarem nada diferente, ou se mesmo tomando remédio a queixa continuar. O excesso de queixas é um sinal importante. Outro detalhe é quando o idoso descuida da higiene pessoal
A depressão na pessoa idosa pode desencadear outras doenças? Quais?
Alterações alimentares, que geram tanto a obesidade, sobrepeso, quanto a anorexia; perda de força muscular, porque a pessoa fica mais tempo parada; descompensação de doenças metabólicas, como colesterol e diabetes; e o comprometimento de doenças osteoarticulares, pois a pessoa não se exercita e fica acamado pela depressão. Além dos riscos de isolamento social, por perder contato com amigos e familiares, o risco da depressão é que o idoso use medicações de forma inadequada, perdendo a capacidade de se orientar corretamente
Há muitas diferenças de sintomas ou prevalência da depressão entre homens e mulheres?
Em termos objetivos de prevalência, não diferente tanto, mas na prática clínica temos mais mulheres buscando tratamento do que homens, que tem mais resistência em admitir a depressão. No homem, normalmente, a depressão é diagnosticada secundariamente a uma doença orgânica
O tratamento da depressão no idoso é diferente?
O ideal, de acordo com a literatura médica, é que sejam feitos tratamentos combinados, de medicamentos e psicoterapia. Há casos que apenas a psicoterapia resolve, e outros que sem a medicação não faz efeito. Contra os fatores negativos, a pessoa idosa precisa de fatores de proteção, como participar de atividades, ter um autoconhecimento, aprender coisas novas, relacionar com outras pessoas, manter-se produtivo, e não só profissionalmente, mas de forma social