Estados Unidos e Venezuela concordaram em abrir um diálogo de alto nível e em analisar o referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, em um encontro realizado nesta terça-feira entre o secretário americano de Estado, John Kerry, e a chanceler Delcy Rodríguez.
Após se reunir com Rodríguez, à margem da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Santo Domingo, Kerry disse à imprensa: "conversamos sobre o referendo revogatório (...), tentamos dizer que eles devem responder, de modo que mostrem abertura e respeito a sua própria lei".
"Não queremos uma suspensão, não acreditamos que isto seja construtivo" para a Venezuela, declarou.
"Acredito que é mais construtivo dialogar do que isolar", completou, manifestando seu desejo de que o diálogo ajuda a superar "a velha retórica".
Em relação ao referendo, Kerry afirmou que os Estados Unidos "simplesmente apoiam um processo constitucional".
"A oposição tem direitos, de acordo com sua Constituição", frisou.
Nesta terça-feira, a oposição reunida na Mesa da Unidade Democrática (MUD) advertiu que "se o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) for utilizado para frear ou anular o processo do revogatório, a Venezuela sairá definitivamente do âmbito da lei e da Constituição e entrará em uma zona de turbulência extremamente perigosa".
Na véspera, os partidários de Maduro apresentaram uma demanda na Sala Constitucional do TSJ - acusado pela oposição de servir ao governo - por "fraude" na coleta de assinaturas para ativar o revogatório.
Em seu encontro, Kerry e Rodríguez acertaram que o subsecretário americano de Estado Thomas Shannon visitará a Venezuela em breve para promover o diálogo bilateral.
Em Caracas, Maduro confirmou a informação.
"Eles propuseram o início de uma nova etapa de diálogo, com novos canais de comunicação e um conjunto de encontros de alto nível de maneira imediata, e eu disse à nossa chanceler: 'aprovado'. Vamos iniciar essa série de encontros de alto nível, estou de acordo", disse o presidente venezuelano.
As relações entre Estados Unidos e Venezuela se encontram deterioradas e, desde 2010, não há embaixadores nas respectivas capitais.
Kerry descartou que Washington vá promover a adoção de sanções contra a Venezuela no âmbito da OEA.
"Não buscamos uma suspensão (da Venezuela da OEA). Não acreditamos que seja construtivo", justificou.
Um diplomata de alto perfil disse à AFP que, se houver uma declaração sobre a Venezuela ao final da Assembleia em Santo Domingo, será para incentivar o diálogo nesse país.
A Assembleia acontece a poucos dias de o Conselho Permanente da OEA realizar em 23 de junho, em Washington, uma sessão extraordinária para debater a crise política e institucional da Venezuela.
Caracas e Washington têm uma longa lista de conflitos, nos quais a Venezuela acusa os Estados Unidos de "intervencionismo imperialista", enquanto a Casa Branca acusa funcionários do governo venezuelano de violar os direitos humanos.
Para o presidente do "think tank" americano Inter-American Dialogue, Michael Shifter, "Washington está devidamente preocupado com a dramática desestabilização do país, mas se dá conta de que, se for além de reafirmar princípios básicos (...) pode ser julgado como intervencionista".
"Diante da crise humanitária na Venezuela, Kerry não pode ficar calado, mas tampouco pode ir longe demais", disse Shifter à AFP.
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