Helena tinha 16 anos quando conheceu Avelino Sangalli, 19. Logo começaram a namorar, e, dois anos depois, casaram-se. A união rendeu frutos: sete filhos, 15 netos e sete bisnetos. Neste domingo, a família e os amigos reuniram-se na comunidade Santa Rita de Cássia, no interior de Veranópolis, para celebrar os 70 anos de união do casal, completados na última quarta-feira, dia 25.
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– Primeiro fizemos a festa dos 25 anos (de casados), depois de 40, 50, 60, e nos 65 eu disse "agora vamos esperar os 70" – conta Avelino, muito bem-disposto apesar dos 91 anos de idade.
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A festa de Bodas de Vinho ocorreu na mesma comunidade em que moraram por vários anos e que ajudaram a fundar, a aproximadamente três quilômetros da cidade.
Mais de cem pessoas acompanharam a missa festiva no pequeno oratório de Santa Rita. Helena vestia cor de vinho, e Avelino estava impecável em seu terno. Um dos momentos mais emocionantes foi a renovação dos votos matrimoniais, refazendo, após 70 anos, as juras de amor e fidelidade. Também teve troca de alianças, e, claro, o tradicional "sim" dos noivos – dito por ambos com muita ênfase. O carinho cultivado por sete décadas pode ser conferido no beijo na mão um do outro. Ao final, não podia faltar o o beijo dos noivos (no rosto).
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– Eles sempre foram um exemplo de vida para todos nós, exemplo de garra, determinação, força de vontade – resume a neta Cassiana Sangali, 33, dizendo ser uma alegria e uma grande honra vê-los festejando 70 anos de casados.
A ocasião merece mesmo uma festa. Apesar de Veranópolis ser conhecida como Terra da Longevidade, mesmo ali são raros os casos de Bodas de Vinho. Paulo Sangalli, 56, filho do casal, conta ter pesquisado, mas não encontrado nenhum. O frei Doraci Antônio Tartari também relata que essa foi a primeira vez, em 37 anos de sacerdócio, que celebrou um casamento tão longevo.
Mas e qual o segredo, além da idade em si, para uma união durar tanto? Os "noivos" desconversam, não sabem explicar direito, mas a filha caçula, Rosemari Sangali Mendes, 48, enumera uma série de exemplos que colheu da vida deles: confiança, companheirismo, fidelidade e, principalmente, muita união:
– Minha mãe sempre foi os olhos dele – acrescenta, referindo-se ao fato de Avelino ser totalmente cego desde que sofreu um acidente cortando lenha, os 49 anos (aos 17, já havia perdido a visão em um dos olhos, devido à catarata).
Daria para acrescentar, ainda, o cuidado um com o outro, demonstrado durante a festa em pequenos gestos, como o de Helena levando à boca de Avelino o primeiro pedaço do bolo.
Agora, como diz Avelino, é esperar a festa de 75 anos de casados. Ou, talvez, a de 80.
Família sempre presente
A família é o elemento mais importante na vida de Helena e Avelino. Desde que o então agricultor perdeu definitivamente a visão, 42 anos atrás, o casal mudou-se para a área urbana. Atualmente, vive no andar superior da casa do filho Paulo, e os filhos e netos estão sempre presentes para qualquer necessidade.
Mesmo assim, os noivos deste final de semana continuam a manter sua independência – Helena, aos 88 anos, ainda cuida da casa, da horta e do jardim, e Avelino segue rachando lenha e, principalmente, fazendo cestos de vime.
– Não dá para ficar parado – ensina o idoso.
Paulo conta que quando chega em casa do trabalho, antes do meio-dia, procura sempre visitar os pais antes de almoçar:
– Se eu não fizer isso, logo o pai desce para ver o que houve.
Até três anos atrás, um dos maiores sonhos de Avelino era ter bisnetos.
– Ele sempre nos cobrava, "quem de vocês vai me dar o primeiro bisneto?" – lembra a neta Cassiana.
E coube justamente a Cassiana dar ao avô essa alegria pela primeira vez, com o nascimento das gêmeas Isabel e Juliana, três anos. Logo na sequência vieram outros cinco bisnetos, a mais nova com dez meses.
Fogão à lenha, missa na TV e vinho
Além da família, três outras coisas não podem faltar na vida de Helena e Avelino: o fogão à lenha, a missa diária na Rede Vida e uma taça de vinho nas refeições, segundo texto lido no início da celebração. A religiosidade, aliás, é uma marca do casal, que sempre que possível comparece à igreja aos domingos.
Depois da missa em que renovaram seus votos, os Sangalli festejaram no salão da comunidade Santa Rita. Feliz, Avelino lamentava apenas que a filha Marlene, que mora na Itália há dez anos, não pode comparecer. O restante da família, entretanto, compareceu em peso, bem como os amigos.
– É muita emoção. Eu convivo com eles no dia a dia e presenciei a força, a luta deles para chegar até aqui – diz Paulo.
Depois do farto almoço e do bolo, a conversa com os amigos seguiu animada tarde adentro. Ninguém saía antes de receber a lembrança das bodas: uma garrafa de vinho.
70 anos de casados
Casal de Veranópolis comemora Bodas de Vinho
Helena e Avelino Sangalli casaram-se a 25 de maio de 1946
Maristela Scheuer Deves
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