A probabilidade de a presidente Dilma Rousseff não encerrar o mandato, seja por renúncia, seja por impeachment, varia em média entre 70% e 85%, de acordo com as previsões de agências de análise de risco político nacionais e internacionais. Os índices são tentativas de sintetizar o desfecho da crise política brasileira em ares matemáticos – ainda que o cálculo por trás dos números seja um caldeirão de subjetividades.
O primeiro sopro de um eventual impeachment, lá no início de 2015, era encarado pela consultoria Tendências, de São Paulo, como algo praticamente incogitável – a chance avaliada era de 20%. Ao longo do último ano, no entanto, as peças dançaram no tabuleiro e dispuseram-se de tal maneira que, hoje, Dilma enfrenta o mais alto risco até o momento, segundo a agência: de 70% de probabilidade de não encerrar o mandato.
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Os 50 pontos percentuais que reviraram o cenário político no país – e talvez agora tirem o sono de Dilma – foram acrescidos à conta dos analistas com base em três fatores principais. O primeiro deles, de acordo com o cientista político Rafael Cortez, consultor da Tendências, diz respeito à existência ou não de crime de responsabilidade. O segundo elemento importante no cálculo está ligado à apresentação de um cenário futuro alternativo, com a projeção de um sucessor, tornando o impeachment uma possibilidade real. Na sequência, entra em cena o próprio jogo: como andam as estratégias do governo para se manter em pé e as articulações da oposição para derrubá-lo.
– A chance de impeachment cresceu com a união entre PMDB e PSDB, que percebeu que a via eleitoral após o processo de impeachment poderia comprometer o futuro da legenda. Temer como plano B traz menos risco para o capital político neste momento, é uma alternativa viável. O início desta coalizão se dá com a carta de Temer, que marcou o início do processo de ruptura com o governo. A isso, somam-se também a agenda de Eduardo Cunha e seu poder institucional. Foi uma aliança importante para que tornasse mais crível a ideia de impeachment – avalia Cortez.
A nomeação de Lula para a Casa Civil, de acordo com o cientista político, não foi um evento importante, uma vez que o ex-presidente não teria mais "a mesma relevância política de antes" – embora Lula lidere a corrida eleitoral para 2018, como aponta a última pesquisa Datafolha. A votação favorável ao parecer do relator da comissão de impeachment, na última segunda-feira, também não alterou a projeção da consultoria.
– Esse resultado já estava na conta – resume o analista.
Para a MB Associados, a projeção está ainda mais crítica para Dilma. De acordo com o economista-chefe da consultoria, Sergio Vale, a probabilidade de Dilma não permanecer no cargo é de 85%. Ele pondera que os aspectos são subjetivos (e não os especifica), mas que o resultado seria o mesmo em pelo menos três situações:
– Não calculamos a probabilidade especificamente sobre o impeachment, mas sobre a chance de a presidente permanecer. Queremos dizer que, se ela não sair agora, sai no processo da OAB(Ordem dos Advogados do Brasil). E se não for pela OAB, será pelo Tribunal Superior Eleitoral, que parece ter argumentos ainda mais consistentes do que tudo o que está saindo até agora – acredita Vale.
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Com um olhar internacional sobre a crise política brasileira, a consultora norte-americana Eurasia Group estima que o risco de Dilma não se manter na presidência é de 75%, conforme levantamento da semana passada. De acordo com os analistas, a chance de novas eleições é de 35%, e a probabilidade de Temer encerrar o mandato é de 40%. Zero Hora entrou em contato com a empresa para esclarecer as projeções, mas foi informada de que não haveria analistas brasileiros disponíveis para comentar os dados.
Para Leonardo Avritzer, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Associação Brasileira de Ciência Política, transformar variáveis subjetivas em probabilidades numéricas não passa de um "chute".
– O único padrão que você tem neste momento é a votação da comissão, em que os favoráveis ao impeachment somaram 58% dos votos, porcentagem ainda distante dos 66% necessários (para que o processo seja enviado ao Senado). É um chute estimar o que vai ocorrer, ainda mais em uma porcentagem. Não existe uma forma científica de fazer esse cálculo – rebate Avritzer.