O escritor, semiólogo e professor italiano Umberto Eco faleceu nesta sexta-feira na Itália, aos 84 anos, noticiou o jornal Corriere Della Sera. Ainda não há informações sobre as causas de sua morte. Segundo a agência italiana Ansa, a notícia foi dada pela família de Eco. A morte aconteceu na casa do escritor, por volta das 20h30min de Brasília (22h30min locais). Eco deixa a esposa Renate Ramge, uma alemã professora de arte com quem era casado desde 1962, e os filhos Stephen e Charlotte.
Nascido em Alexandria, Itália, em 5 de janeiro de 1932, ele começou sua carreira como filósofo. Seus primeiros trabalhos se dedicaram ao estudo da estética medieval, em particular aos textos de São Tomás de Aquino. Nos anos 1950, ele abandonou a Igreja Católica levado por uma crise de fé. A partir da década de 1960, passou a estudar as relações entre a poética contemporânea e a pluralidade de significados.
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Neste período, estudou a cultura de massa, publicando ensaios que criticavam a postura daqueles que diziam que esta arruinava os valores artísticos. Eco trabalhou como editor cultural na estatal italiana de televisão RAI, onde passou a ter contato com a vanguarda artística, como pintores, músicos e escritores, com quem desenvolveu grande amizade. Ele também foi professor na Universidade de Turim de 1956 a 1964, titular da cadeira de Semiótica e diretor da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha e lecionou temporariamente em Yale, na Universidade Columbia, em Harvard, Collège de France e Universidade de Toronto.
Nas décadas de 1970 e 1980, ele escreveu importantes textos nos quais procurou definir os limites da pesquisa semiótica, segundo pressupostos buscados em filósofos como Immanuel Kant e Charles Sanders Peirce. Ele também exerceu influência na imprensa satírica e humorística italiana, algo que pode ser percebido na sua coletânea de textos de imprensa Diário Mínimo (1963).
Ao se lançar como romancista, nos anos 1980, se tornou conhecido com o livro O Nome da Rosa, casando a alta literatura com o best-seller histórico, o que abriu caminho para sucessos posteriores como os de Dan Brown. Nesta que é sua publicação mais conhecida, Eco narra uma história passada em uma abadia medieval, contando em tons de romance policial a morte consecutiva de vários monges interessados num fictício tratado de Aristóteles sobre o humor.
Na sequência, em sua carreira literária, se seguiram outros romances, como O pêndulo de Foucault (1988), delirante trama de teorias da conspiração envolvendo o mistério dos templários anos antes que eles voltassem à moda. Em sua obra literária, também se destacam livros como O segundo diário mínimo (1990), Cinco escritos morais (1997), Kant e o ornitorrinco (1997), La Bustina di Minerva (2000), Baudolino (2000), Sobre a literatura (2002), A misteriosa chama da rainha Loana (2004), Não contem com o fim do livro (2010) e O Cemitério de Praga (2010).
Seu livro mais recente é Número Zero (2015), onde ele utilizou sua experiência como jornalista para fazer uma sátira à imprensa, por meio da narrativa de um jornalista contratado para criar o número zero de uma publicação que não tem a menor perspectiva de ser publicada. Como é comum em romances de Eco, a história acaba esbarrando numa teoria da conspiração.
Eco notabilizou-se por uma prosa que casa sólida erudição, influências pop e um humor extremamente inteligente. Foi um intelectual bastante crítico dos rumos da contemporaneidade e, como bom rato de biblioteca confesso, lançou em 2010 a obra Não Contem com o Fim do Livro, um diálogo com o roteirista Jean Claude-Carrière em que defendia a necessidade da permanência do livro em papel como documento para a posteridade.
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