Delcídio Amaral (PT-MS) virou um "homem-bomba". A definição circula pelos Três Poderes. Preocupados, Palácio do Planalto e PT trabalham para neutralizar os efeitos colaterais da prisão do líder do governo no Senado, flagrado na tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e de barrar as investigações da Operação Lava-Jato.
Desajuste da base para votar a pauta econômica, racha com senadores petistas, receio sobre novas revelações na Petrobras e o regresso da ameaça de impeachment desafiam o Planalto. Problemas que podem ser potencializados caso Delcídio opte por "cair atirando", como definem colegas. Uma eventual delação premiada do parlamentar é monitorada por petistas.
- Delcídio nunca foi um petista histórico, não tem compromisso com o partido, foi do PSDB. Existe o risco dele sair falando - avalia um deputado da sigla.
Em reuniões com ministros, a presidente Dilma Rousseff decidiu manter distância de Delcídio, mas foi orientada a ter cautela em críticas públicas, afinal, ele era seu líder no Senado. Como o parlamentar conhece as entranhas da Petrobras - foi ministro de Minas e Energia de Itamar Franco e diretor de Gás e Energia da estatal no governo Fernando Henrique -, paira o temor de que ele ataque a presidente caso se sinta abandonado.
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Acusações sobre a compra refinaria de Pasadena (EUA), realizada quando Dilma liderava o conselho de administração da estatal, provocam calafrios, pois poderão alimentar o desgaste do caso a partir da delação de Cerveró, que dirigiu a área internacional da petroleira.
Na avaliação de petistas, a composição das falas de Cerveró e Delcídio pode ressuscitar o risco de abertura de processo de impeachment, esvaziado com as contas na Suíça do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Acredita-se que Cunha padeça ao longo de 2016 e deixar os holofotes facilitaria a busca do peemedebista por salvar o seu mandato.
Além disso, a posição do PT dificulta um pacto de não agressão com Delcídio - o partido negou "solidariedade" ao parlamentar. A executiva deve se reunir na próxima semana para definir a situação do senador, que pode ser expulso da legenda, posição já defendida internamente.
- Não quero no meu partido alguém que combinava para um bandido fugir do país - diz o deputado Elvino Bohn Gass (PT-RS).
Governo busca novo líder para o Senado
Uma nota do PT revoltou os senadores da sigla, que se sentiram "rifados" com a divulgação durante a votação que manteve a prisão de Delcídio, na quarta-feira. O texto foi redigido sem consultar a bancada, que avalia que se desgastou em vão - nove petistas votaram para relaxar a prisão. Ontem, sobraram críticas à mensagem em meio à tentativas de justiticar os votos da véspera.
- É muito importante que a classe política assuma as posições de forma clara, que não faça gestos de ver a opinião pública como ameaça - disse o senador Jorge Viana (PT-AC).
Os petistas não estão dispostos a outra exposição caso Delcídio seja levado ao Conselho de Ética, como cobra a oposição. Apesar de preso, o sul-matogrossense segue recebendo salário (R$ 33,7 mil). Especula-se que poderá pedir uma licença formal de 120 dias.
O escândalo com o parlamentar também conturbou a agenda legislativa do governo, que discute o novo líder no Senado. Uma ala da base defende um nome do PMDB, com sugestões para Blairo Maggi (PMDB-MT). Outro grupo prega que José Pimentel (PT-CE), líder do governo no Congresso, acumule as funções. A escolha sairá semana que vem.
Mesmo preso, Delcídio seguirá recebendo R$ 33,7 mil de salário
Da pauta econômica, a prioridade é a mudança da meta fiscal, que deveria ter sido aprovada quarta-feira na sessão conjunta do Congresso, que foi cancelada. A votação estaria encaminhada, pois o Planalto conta com auxílio de Renan Calheiros (PMDB-AL), Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Romero Jucá (PMDB-RR). A mudança da meta, prevendo déficit de até R$ 119,9 bilhões, é vital para blindar Dilma de um eventual crime de responsabilidade.
Renan marcou nova sessão do Congresso para quinta-feira, a fim de que o Planalto reorganize sua base de apoio. Para ocupar o vazio deixado por Delcídio, considerado um líder habilidoso e com trânsito na oposição, ministros vão reforçar a articulação.
Se a meta fiscal estaria encaminhada, há receio de paralisia na Comissão de Assuntos Econômicos, que era presidida pelo senador preso. Lindbergh Farias (PT-RJ) é cotado para substituí-lo. Também preocupa a aprovação no Senado do projeto de regularização e repatriação de recursos de brasileiros não declarados no Exterior, do qual Delcídio era o relator. Concebido para aumentar arrecadação, acredita-se que será difícil votá-lo até o final do ano.
Em compasso de espera
Mudança da meta fiscal
O governo pretendia aprovar na quarta-feira a mudança na meta fiscal de 2015, na sessão conjunta do Congresso que foi cancelada e remarcada para quinta-feira. O Planalto depende da alteração da meta com previsão de déficit de até R$ 119,9 bilhões nas contas.
LDO e Orçamento de 2016
A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016 também é prioridade para ser votada pelo Congresso, diante da perspectiva de que o orçamento seja aprovado a partir de fevereiro. Se atrasar, a LDO permite que o governo utilize 1/12 dos recursos para tocar a máquina.
Repatriação de recursos do Exterior
Está no Senado o projeto que regulariza e permite a repatriação de recursos não declarados que brasileiros mantêm no Exterior. A proposta foi concebida pela área econômica do governo para ampliar a arrecadação e auxiliar a tapar o rombo das contas.
DRU
O governo quer prorrogar a Desvinculação de Receitas da União (DRU) até 2019, que depende de aprovação na Câmara e no Senado. Como o texto precisa passar em duas votações em cada Casa, o tempo é curto. A DRU permite ao governo flexibilizar parte do orçamento.
Volta da CPMF
O retorno da CPMF depende da aprovação de uma PEC em dois turnos na Câmara e Senado. A tramitação está parada e o próprio Planalto trabalha com a tentativa de avançar no debate em 2016.
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