Durante as quase quatro horas de depoimento à Polícia Federal, o senador Delcídio Amaral se declarou inocente das acusações de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato.
O senador prestou depoimento na Superintendência da PF, onde está preso preventivamente desde quarta-feira. Ele negou que buscasse impedir Cerveró de fazer acordo de delação premiada.
Segundo o senador, ele disse a Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, que iria ajudar o ex-diretor "apenas por uma questão humanitária", com o intuito de confortar Bernardo. No entender da Procuradoria-Geral da República, no entanto, Delcídio buscava obstruir o avanço das investigações e evitar que Nestor Cerveró firmasse acordo de delação premiada.
Prisão de Delcídio e atraso em votações preocupam Palácio do Planalto
Em uma conversa que Bernardo gravou com seu telefone celular no dia 4 de novembro, o senador disse que intercederia no Supremo Tribunal Federal para ajudar Cerveró a conseguir um habeas corpus. Questionado ontem pela PF sobre expressões utilizadas no diálogo, Delcídio afirmou:
- Foram com intuito de dar uma palavra de esperança e de conforto para o familiar de um réu que está preso, mas jamais falei com qualquer ministro do STF sobre o assunto.
De acordo com o petista, ele foi procurado pelo filho do ex-diretor da Petrobras por meio do advogado.
- Apenas dei essa palavra de conforto vendo o desespero do filho de um dos presos. Ele (Bernardo) se apresentou a mim pedindo ajuda. Eu disse que ia ajudar e tentar interceder, mas isso foi apenas uma questão humanitária, para confortar o familiar do réu preso da Lava Jato -, afirmou o senador à PF.
No diálogo gravado por Bernardo, Delcídio, um assessor de seu gabinete e o advogado Edson Ribeiro chegam a planejar um roteiro de fuga para Cerveró deixar o Brasil após conseguir a liberação pelo Supremo. A intenção, conforme os relatos, era levar o ex-diretor da Petrobras para a Espanha.
Supremo nega soltar banqueiro e determina transferência para presídio
Mesmo preso, Delcídio seguirá recebendo R$ 33,7 mil de salário
Relação próxima
A PF quis saber de Delcídio sobre a participação do advogado, ex-defensor de Cerveró e até ontem procurado pela Interpol também por envolvimento no episódio. O senador disse que o advogado entrou em contato com ele e pediu uma reunião:
- Levou junto (na reunião) o Bernardo. Eu o recebi. Eu tinha uma relação próxima com Nestor Cerveró e com a família do Nestor Cerveró. Por esse motivo, eu os recebi. Na conversa, Edson Ribeiro começou a relatar que tinha entrado com habeas corpus (para Cerveró), relatou o drama pessoal, o sofrimento pessoal que Nestor Cerveró está passando. Eu disse que ia tentar ajudar, mas foi uma palavra de conforto ao filho (Bernardo) - reiterou.
Delcídio deverá ser ouvido novamente pela PF. Existem outras questões que os investigadores querem submeter ao senador, como, por exemplo, sua ligação com o banqueiro André Esteves, presidente do BTG Pactual, que, conforme as tratativas gravadas por Bernardo, ficaria responsável por uma mesada de R$ 50 mil para a família de Cerveró em troca do silêncio do ex-diretor da Petrobras.
O senador foi confrontado com o áudio da conversa com o filho de Cerveró e reconheceu sua voz na gravação. "O senador deu as explicações de maneira contundente", afirmou o advogado. Maurício Silva Leite. Ele disse que o petista aguarda "sereno o desenrolar das investigações, mas muito chateado".
Segundo Leite, o senador não tentou subornar Cerveró nem obstruir a Lava Jato. "Isso não ocorreu."
Para Lula, tentativa de Delcídio de barrar Lava-Jato foi "uma grande burrada"
* Zero Hora e Estadão Conteúdo