O presidente burquinense, Michel Kafando, destituído por militares golpistas em 17 de setembro passado, voltará ao cargo na quarta-feira - disse nesta terça à AFP o general golpista Gilbert Diendéré.
"Os chefes de Estado [da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental] chegarão amanhã [a Uagadugu] para sua volta ao cargo".
"Teoricamente, vou recebê-los amanhã [no aeroporto], e Kafando vai acompanhá-los depois", afirmou Diendéré, chefe do Regimento de Segurança Presidencial (RSP), que liderou o golpe de Estado.
O Exército burquinense e os golpistas assinaram um acordo, em Uagadugu, para evitar um confronto. O acerto foi divulgado para a imprensa na presença do rei dos Mossis (etnia majoritária no país), Mogho Naaba, autoridade tradicional muito respeitada.
Entre os cinco pontos do acordo, o Regimento de Segurança Presidencial (RSP), responsável pelo golpe, compromete-se a "aceitar o acantonamento" em sua base no "campo" Naaba Koom II e "ceder os postos de segurança" que ocupam "na cidade de Uagadugu". As forças "legalistas" prometeram "recuar as tropas em 50 km" e "garantir a segurança do pessoal (do RSP) e de suas famílias".
Hoje, os golpistas libertaram o primeiro-ministro interino, tenente-coronel Isaac Zida - disseram várias fontes, pouco depois de o Exército entrar na capital para negociar a rendição dos responsáveis pelo golpe.
Uma fonte da Polícia e um membro do círculo de Zida contaram à AFP que o premiê, detido no Palácio presidencial desde o golpe da última quarta-feira, foi autorizado a voltar para sua residência oficial.
Em comunicado divulgado nesta terça à noite, Zida se dirigiu a seus ex-companheiros de armas do Regime de Segurança Presidencial (RSP).
"A todos os meus irmãos de armas do RSP, vocês se comprometeram a servir à Pátria, mas vocês tomaram o mau caminho. Voltem às fileiras do povo para que, juntos, possamos construir uma nação de paz, de justiça e de liberdade", declara a nota.
Mantido como refém pelos golpistas desde 16 de setembro, ele confirmou sua "libertação nesta terça de manhã por volta das 4h (1h em Brasília)" e garantiu que passa bem.
"Estou bem, mas moralmente chocado com o que meu país atravessa", desabafou.
Primeiro-ministro da transição, Zida estava em conflito aberto com o RSP antes do golpe. Ele assumiu interinamente a função de chefe de Estado após a queda do presidente Blaise Compaoré, deposto por pressão popular em 2014.
"Felicitando o povo por sua luta ferrenha pela liberdade, pela paz e pela democracia, eu gostaria de garantir a todos os filhos e filhas de Burkina que a luta, à qual vocês foram obrigados, ainda terminará com uma vitória", acrescenta a nota.
"Dirigindo-me ao conjunto das Forças Armadas nacionais, eu renovo minha total confiança", concluiu.
* AFP